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Acompanhe, a seguir, a segunda parte do Diário de um Missionário, escrito pelo Frei Paulo Henrique Cintra, membro da Comissão de Justiça e Paz e Cuidado com a Criação, da nossa Província, sobre a experiência de missão iniciada em julho, na região da Amazônia peruana. Leia a primeira parte aqui.

Neste relato, Frei Paulo nos conta um pouco sobre o dia a dia, as pessoas que conheceu, os lugares que visitou, as diversas iniciativas solidárias para as comunidades, como o projeto “Alma en Primavera”, para idosos; o Hopital de Iquitos, que logo completará 78 anos de atividade; a escola profissionalizante, mantida por meio de uma parceira coma prefeitura; e o início de suas atividades na Capela De La Visitacionna. E também sobre o trabalho dos voluntários e as iniciativas paroquiais de apoio à população, como a doação de alimentos e a assistência à saúde.

Na última semana, Frei Paulo integrou a equipe da cozinha solidária que prepara alimentação para os idosos da comunidade.
"É perceptível o cuidado e o carinho dessas pessoas com os idosos que dependem desse trabalho para terem uma alimentação minimamente saudável. Não apenas verificado no carinho do preparo dos alimentos ou no respeito e aproveitamento dos donativos recebidos, mas sobretudo na delicadeza de saber o nome de cada uma das pessoas assistidas, na preocupação quando falta alguém e a busca imediata para se saber se aconteceu alguma coisa. Tem sido dias de muito aprendizado e de convívio fraterno e humano".

A seguir, um relato sobre os dias na missão de Iquitos:

Após uma fraterna recepção e acolhida, no dia seguinte, conheci a Paróquia La Inmaculada Concepción da região de Punchana, acompanhado do Frei Ariel, panamenho, que faz seu estágio pastoral antes da ordenação presbiteral, que será em mês de setembro, na Cidade do Panamá. Ele reside na comunidade Inmaculada, junto com o Frei Francisco García, que é o atual pároco.

Na comunidade, fiquei a cargo de presidir as Celebrações da Palavra, aos domingos pela manhã, na Capela De La Visitacion - Uma capela típica de interior, pequena, simples, e muito bem organizada, que possui um bom espaço para as atividades catequéticas e outros encontros com as pastorais do setor. Dispõe de cinco salas amplas e arejadas.

Ao longo do dia, o calor é intenso. Na fraternidade onde vivem os irmãos, encontrei o Frei Francisco, mais conhecido como “Paco”. Frei Paco é um frade espanhol que está em Iquitos há muitas décadas. E, segundo Frei Ariel, gosta muito de cultivar no quintal da fraternidade. “¡Hay que sembrar, siempre! ¡Y la gente no hace eso!” afirmou Frei Paco de imediato, fazendo-me recordar da liturgia do domingo, 16 de julho, onde Mateus narra a parábola do semeador na boca de Jesus.

Conversamos um pouco sobre as frutas amazônicas. Tive a oportunidade de experimentar a Caimito, que no Brasil é conhecida como Abiu. Frei Paco conhece muito bem a geografia da região e sua história. Uma excelente oportunidade de aprender sobre as suas experiências e estudos.

Noutro dia, fui à fraternidade responsável pela Paróquia Santo Cristo de Bagazán, onde conheci o Frei Walker Dávila Rios, atual pároco. Localizada na região de Iquitos, possui mais de quarenta capelas, urbanas, e nas margens do rio Amazonas. Em suas dependências funciona uma escola de formação profissional chamada (CETPRO), que oferece diferentes cursos de curta e média duração (Corte e costura, Corte e Design de Cabelo, Culinária, Panificação, Mecânica, Reparação e Manutenção de equipamentos eletrônicos, Manutenção de computadores e Redes, etc). A escola se mantém graças à parceria com a prefeitura da cidade de Iquitos. Em parceria com o hospital de Iquitos (que comemora 78 anos por esses dias), a paróquia dispõe de um espaço chamado “Centro del Adulto Mayor” (CAM), que promove a socialização e atividades manuais para os anciãos da região. O projeto “Alma en Primavera”.

A paróquia estabeleceu uma fecunda relação com o hospital militar Santa Rosa, que fica nas proximidades. Mensalmente os funcionários do hospital se reúnem para celebrar uma Missa de Ação de Graças pelo trabalho, e pelas intenções dos enfermos do hospital e da paróquia. Nessa Missa se faz a arrecadação de alimentos organizada entre os funcionários do hospital, que é revertida para o Comedor da Paróquia Santo Cristo de Bagazán; e para o Centro de Assistência Social (CAS) da paróquia, que promove um atendimento de saúde bucal para a população de baixa renda, e também ampara as necessidades paliativas de saúde, e de recuperação de algum trauma, oferecendo insumos e o empréstimo de equipamentos ortopédicos.

O Comedor é uma cozinha solidária organizada e administrada pela paróquia, que atende cerca de 180 pessoas, três vezes por semana. O seu objetivo é fornecer alimento para os “Adultos Mayores” de baixa renda que reside no território paroquial. O Comedor funciona integralmente por meio de doações de alimentos adquiridos por campanha de arrecadação feita no hospital militar e na Paróquia de Bagazán. E conta com 100% de trabalho voluntário dos paroquianos.

A convite do Frei Walker, estou ajudando nessa paróquia, por esses dias, na assistência religiosa e apoio nos trabalhos do Comedor. A equipe de voluntários é bem articulada entre si, o que facilita muito os trabalhos. O ambiente é leve, descontraído propiciando assim um bem-estar e uma liberdade muito grande entre a equipe. É perceptível o cuidado e o carinho dessas pessoas com os idosos que dependem desse trabalho para terem uma alimentação minimamente saudável. Não apenas verificado no carinho do preparo dos alimentos ou no respeito e aproveitamento dos donativos recebidos, mas sobretudo na delicadeza de saber o nome de cada uma das pessoas assistidas, na preocupação quando falta alguém e a busca imediata para se saber se aconteceu alguma coisa. Tem sido dias de muito aprendizado e de convívio fraterno e humano.

Aproveito sempre que posso para aprender sobre o preparo dos alimentos típicos e do quotidiano da população local, e com isso bebo das diferentes matrizes culturais que se estabeleceram por aqui. No comedor sempre é oferecido uma comida muito nutritiva e com uma grande riqueza de sabores. Como o Peru possui a maior colônia chinesa da América Latina, a influência da cultura chinesa é muito forte por todo o País. Então, na cidade de Iquitos, a culinária é uma síntese da culinária amazônica com a culinária chinesa, com alguns toques de cultura Andina. Ou seja, a comida é muito rica de sabor, aroma, cores, texturas e cultura.

Em entrevista ao Diário La Región, Frei Paulo Cintra disse que as pessoas que trabalham no cuidado com os mais pobres, que se preocupam com os idosos, como na obra social da Paróquia Santo Cristo de Bagazan, estão muito perto da mensagem de Jesus. Dar de comer a quem tem fome e dar de beber para quem tem sede. "Vejo que a Paróquia de Santo Cristo de Bagazan está perto dos mais necessitados."