No mês de maio tive a graça de, numa mesma manhã, encontrar-me duas vezes com o Papa Francisco, e receber pessoalmente a sua bênção. Tentem imaginar o que significa essa experiência. Acho que a palavra mais acertada que traduz o significado e os sentimentos dessa experiência é “graça”. Graça que, como explica Santo Agostinho, o nome já diz, é de graça: dom, presente, bem.
No início de maio estive em Roma para uma reunião com o Prior Geral, ocasião em que aproveitei também para visitar Frei Leandro, de nossa Província, que reside no Colégio Internacional Santa Mônica, onde exerce a função de ecônomo local. De tempos em tempos os provinciais devem se reunir com o Prior Geral e às vezes com o Conselho Geral, para tratar temas das suas províncias. Foi o que fiz entre 6 e 10 de maio.
Bem ao lado do Vaticano os Agostinianos têm três instituições muito importantes: a Cúria Geral Agostiniana, onde reside o Prior Geral e os membros do Conselho Geral e outros frades que auxiliam o governo central da Ordem; o Colégio Internacional Santa Mônica, onde residem frades no período de formação inicial, frades que aprofundam os estudos em vários campos de conhecimento e a comunidade permanente; o Pontifício Instituto Patrístico Agostiniano, renomado centro de estudos superiores, especializado nos Padres da Igreja, sobretudo em Santo Agostinho. Aí pude realizar minha especialização em Patrologia nos anos 1994-1998.
Nessa semana também acontecia em Roma a reunião da coordenação da Rede Internacional das Sociedades de Teologia Católica. Essa rede reúne as associações católicas oficiais de teologia sistemática, em todo o mundo. E havia representantes de cada continente. No entanto, o representante da América do Sul não pôde estar presente. Foi aí que eu recebi o honroso convite de participar da audiência que esses teólogos e teólogas teriam com o Papa. Ao menos alguém da América Latina estaria, de alguma forma, representando o continente. Foi, de fato, algo que eu não esperava nem imaginava. Portanto, um verdadeiro momento de graça!
Na mesma manhã, outro grupo internacional era recebido pelo Papa: tratava-se de uma delegação de um importante centro de estudos dos Agostinianos dos Estados Unidos, que este ano celebra 90 anos de sua fundação: o Merrimack College, em North Andover, Estado de Massachussets. Fazia-se presente nessa audiência o Conselho Geral em pleno, com o Prior Geral, Frei Alejandro Moral, OSA. Pude estar presente também nessa audiência, recebendo outra bênção do Papa. Outro momento de graça!
Neste breve artigo, não darei detalhes sobre as mensagens do Papa, que podem ser encontradas no site oficial das notícias da Santa Sé, o Vatican News. Quero compartilhar algumas curiosidades, que normalmente não são noticiadas. A começar do lugar das audiências. O Papa dá audiências em vários lugares do Vaticano: na Aula Paulo VI, um grande auditório com capacidade para 6.300 pessoas sentadas; na Praça de São Pedro, para grandes multidões, podendo abrigar mais de 300 mil pessoas e no Palácio Apostólico, que é aquele edifício do qual ele dá a bênção na sacada de uma janela. E às vezes em Castel Gandolfo, que é uma residência papal nas aforas de Roma.
Audiências para grupos menores, nem sempre tão menores assim (variam de 10 a 400 pessoas) acontecem no Palácio Apostólico, ao lado da basílica de São Pedro. Os grupos entram pelo Portão de Bronze. O líder de cada grupo deve apresentar ao oficial da Guarda Suíça, logo na entrada, as credenciais que testificam a realização da audiência. A seguir, o grupo é conduzido por outro guarda suíço para dentro do edifício, por várias escadarias imponentes, até o lugar das audiências. Normalmente o Papa dá audiências para vários grupos num mesmo dia.
Funciona assim: os grupos ficam dispostos em salas apropriadas, de acordo com o número de pessoas. Dependendo do estado de saúde do Papa, ele mesmo vai circulando pelas salas, todas decoradas com tapetes ou obras de arte de artistas famosos. No dia em que participei das audiências, eram os grupos que circulavam até chegar ao lugar onde o Papa iria dar a audiência. Na entrada do Papa todos se levantam e, logo em seguida, ele faz uma saudação e lê uma curta mensagem, de acordo com o motivo de cada grupo. Às vezes, o líder do grupo também dirige umas palavras. Depois disso, o Papa cumprimenta cada pessoa e normalmente dá um rosário (terço) de presente. No final, tira-se a foto oficial, seguida da bênção papal. Depois da bênção ele se retira e o grupo novamente é conduzido por um guarda suíço até a saída. Além dos cerimoniários do protocolo, sempre há dois monsenhores ou bispos que acompanham o Papa; no caso de alguém entregar algum presente ou carta ao Papa, são eles que recebem e depois encaminham para o pontífice.
Para além desse protocolo todo, está a beleza e a emoção ímpar de encontrar-se com o Papa. A gente se sente envolvido por uma força mística, que traz serenidade, alegria e paz! Quem já se encontrou com uma pessoa boa, por mais simples que seja, experimenta essa mesma aura de santidade. No posto mais alto da missão de governar a Igreja, o Papa é, sobretudo, o bispo de Roma, o “servo dos servos de Deus”.
Frei Luiz Antônio Pinheiro, OSA
Prior Provincial
Artigo publicado na coluna Reflexão, do Jornal Inquietude On-line, edição de junho de 2024.
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