Celebramos de 24 a 31 de maio de 2020, mais uma edição da Semana de Oração pela Unidade Cristã (SOUC). O tema do ano é “Gentileza gera Gentileza”, baseado na passagem de At 28:2, que relata o momento em que Paulo é acolhido, por habitantes de Malta, após um naufrágio em seu navio. O texto diz que aquelas pessoas usaram de receptividade e Gentileza para com o apóstolo, então forasteiro.
Os materiais para a Semana de Oração pela Unidade Cristã de 2020 foram preparados pelas Igrejas cristãs em Malta. Todos os anos, em 10 de fevereiro, muitos cristãos da ilha celebram a festa do naufrágio de São Paulo, destacando e agradecendo a chegada da fé cristã nesse território. A leitura de Atos usada na festa este ano foi o texto escolhido para a SOUC 2020.
Contexto
A história começa com Paulo sendo levado a Roma como prisioneiro (At 27:1). Paulo está preso, mas mesmo numa viagem que se torna perigosa, a missão de Deus continua através dele.
A narrativa é um clássico drama da humanidade. O relato informa que os passageiros do navio estão expostos às forças dos mares e das poderosas tempestades que se erguem ao seu redor. Essas forças os levam a um território desconhecido, onde estão perdidos e sem esperança.
As 276 pessoas a bordo são divididas em grupos distintos.
O centurião e seus soldados têm poder e autoridade, mas dependem da perícia e da experiência dos marinheiros. Embora todos estejam assustados e vulneráveis, os prisioneiros são os mais vulneráveis de todos. Suas vidas são consideradas dispensáveis, eles estão em risco de uma execução sumária (At 27:42). À medida em que a história se desenvolve, sob pressão e temendo por suas vidas, vemos desconfiança e suspeita ampliando as divisões entre os diferentes grupos.
Notavelmente, porém, Paulo se ergue como um centro de paz no tumulto. Ele sabe que sua vida não é governada por forças indiferentes ao seu destino, mas está segura nas mãos do Deus a quem ele pertence e serve (At 27,23). Por causa de sua fé, ele está confiante de que se erguerá diante do imperador em Roma. É a força da fé que encoraja Paulo a se erguer diante de seus companheiros de viagem e dar graças a Deus. Todos passam a ficar encorajados. Seguindo o exemplo de Paulo, eles partilham pão, unidos numa nova esperança e confiando em suas palavras.
Esta experiência de confiança aponta para o tema principal dessa passagem: a providência divina. Foi decisão do centurião navegar em tempo ruim. Entretanto, durante a tempestade, os marinheiros é que devderiam decidir como conduzir o navio para garantir segurança à tripulação. Com o agravamento da situação, os planos dos marinheiros precisaram ser alterados. A única alternativa possível seria permanecer juntos e permitir que o navio naufragasse. Estão à deriva, nas mãos de Deus. Foram salvos pela divina providência. O navio e toda a sua valiosa carga se perderam, mas todas as vidas foram salvas.
Esse grupo de pessoas diversas, e em conflito, desembarca em uma ilha (At 27:26). Tendo sido jogados juntos pelo mesmo navio, chegam ao mesmo destino. Lá, são recebidos com muita hospitalidade e amorosidade pelos nativos da ilha, que desconheciam os conflitos internos do grupo náufrago. Ao se unirem ao redor do fogo, cercados por um povo que nem os conhece nem os compreende, diferenças de poder e posição social se esvaem. Os 276 náufragos não estão mais na dependência de forças indiferentes, mas envolvidos pela amorosa previdência de Deus, que se revela através de um povo que os acolheu com uma “Gentileza fora do comum” (At 28:2). Com frio e molhados, eles podem se aquecer e secar perto do fogo. Com fome, recebem comida. São abrigados até que seja seguro para eles continuar a viagem. É uma Gentileza capaz de transformar qualquer conflito e animosidade.
Atualidade
Hoje, muitas pessoas estão enfrentando terrores semelhantes nesses mesmos mares. Os mesmos lugares mencionados no texto lido (At 27:1; 28:1) também fazem parte das histórias de migrantes dos tempos atuais. Em outras partes do mundo, muitos outros estão fazendo jornadas igualmente perigosas por terra e pelo mar para escapar dos impactos das mudanças climáticas, das guerras e pobreza. Suas vidas estão ameaçadas pelas xenofobias, racismos, poderes políticos e econômicos. O desespero de buscar novas possiblidades de vida acaba sendo expostos a grupos que vende a preço muito caro a travessia em mares em barcos piratas, sem segurança alguma. Quando ficam à deriva, precisam encarar a falta de solidariedade presentes nas decisões de muitos países de não oferecer barcos de socorro. A xenofobia política faz com que governos dos países de destino destes imigrantes enviem os barcos às suas regiões de origem.
Essa história nos desafia: apoiamos as frias forças da indiferença, ou mostramos benevolência, Gentileza, e nos tornamos testemunhas da amorosa providência de Deus para todas as pessoas?
A hospitalidade é uma virtude muito necessária em nossa busca da unidade cristã. É uma prática que nos leva a uma maior generosidade com todas as pessoas. As pessoas que mostraram Gentileza e benevolência para Paulo e seus companheiros não conheciam Cristo, mas foi por meio desta Gentileza que o grupo náufrago redescobriu que deveria superar os conflitos e permanecer unido. Nossa própria unidade poderá ser ampliada quando, além de mostrarmos hospitalidade de uns para com os outros, conseguirmos comungar nossas alegrias e esperanças com aqueles que não partilham nossa língua, cultura ou fé.
O cartaz deste de 2020 foi enviado pela
Lílian Santos Gomes, 35 anos, moradora de Porto Alegre-RS. Na arte, vemos mãos de acolhida - representando todos os povos - circundando a peça. Ao centro, temos um bote com migrantes e um barco a acolhê-los, numa alusão às muitas ONGs que, hoje, fazem esse trabalho de resgate no Mar Mediterrâneo e em outras localidades. Corações aquecidos e pombas brancas da paz, que também representam o Espírito Santo, são os outros componentes do desenho... que taz em si o tema da SOUC 2020: Gentileza gera Gentileza.