A Comissão para a Animação Bíblico-Catequética da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) propõe o estudo do livro do Deuteronômio, para o Mês da Bíblia 2020, com o lema "Abre tua mão para o teu irmão” (Dt 15,11). O Mês da Bíblia foi criado em 1971, em Belo Horizonte, com o objetivo de estudar a Palavra de Deus.
Deuteronômio é um livro rico em reflexões morais e éticas, com leis para regular as relações com Deus e com o próximo. Destaca-se no livro a preocupação de promover a justiça, a solidariedade com os pobres, o órfão, a viúva e o estrangeiro. São leis humanitárias encontradas também no Código da Aliança (Ex 20-23).
O Deuteronômio é o livro do Antigo Testamento mais citado nos escritos do Novo Testamento, mais de 200 vezes! É com citações do livro do Deuteronômio, que Jesus vence as tentações do demônio no deserto:
* “Não só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus” (Dt 8,3; Mt 4,4).
* “Não tentarás o Senhor teu Deus” (Dt 6,16; Mt 4,7).
* “Ao Senhor teu Deus adorarás e só a Ele prestarás culto” (Dt 6,13; Mt 4,10).
Os sete temas centrais do Deuteronômio
O amor de Deus é a chave para interpretar os fatos da história. Tudo o que Deus nos faz, o faz por amor. Foi por amor que Deus tirou o povo do Egito: “7Se Yhwh se afeiçoou a vós e vos escolheu, não é por serdes o mais numeroso de todos os povos — pelo contrário: sois o menor dentre os povos! — 8e sim por amor a vós e para manter a promessa que ele jurou aos vossos pais; por isso Yhwh vos fez sair com mão forte e vos resgatou da casa da escravidão, da mão do Faraó, rei do Egito” (Dt 7,7-8).
Sem memória, o povo perde a sua identidade e o rumo da sua missão. Por isso, sem parar, do começo ao fim, o livro do Deuteronômio pede para o povo não esquecer nunca o seu passado: “Amanhã, quando o teu filho te perguntar: “Que são estes testemunhos e estatutos e normas que Yhwh nosso Deus vos ordenou?”, dirás ao teu filho: “Nós éramos escravos do Faraó no Egito, mas Yhwh nos fez sair do Egito com mão forte” (Dt 6,20-21). É quase um refrão que volta sempre: Dt 1,30; 4,20.34.37; 5,6.15; 6,12.21; 7,8.18; 8,14; 9,26; 11,3-4; 13,6.11; 15,15; 16,1.12; 20,1; 24,18.22; 26,8; 29,1; 34,11).
Libertado da escravidão no Egito, o povo recebeu a missão de ser a revelação do rosto deste Deus no meio dos outros povos: “Yhwh vos tomou e vos fez sair do Egito, daquela fornalha de ferro, para que fôsseis o povo da sua herança, como hoje se vê” (Dt 4,20), ou, como o próprio Deus falava ao povo através do profeta Isaías: “Eu, Yhwh, te chamei para o serviço da justiça, tomei-te pela mão e te modelei, eu te pus como aliança do povo, como luz das nações” (Is 42,6). Por isso, os que tem a função de governar, devem ser para o povo aquilo que o próprio povo deve ser para toda a humanidade: “Abre a mão em favor do teu irmão, do teu humilde e do teu pobre em tua terra” (Dt 15,11). Esta frase é o lema do mês da Bíblia deste ano de 2020. Ser o povo eleito de Deus não é privilégio, mas é serviço, é missão. Nosso privilégio é poder servir aos outros.
Constantemente, do começo ao fim, o livro do Deuteronômio manda lembrar o Êxodo: ”Recorda que foste escravo na terra do Egito, e que Yhwh teu Deus de lá te resgatou. É por isso que eu te ordeno agir deste modo” (Dt 24,18). Sem parar, falando ao povo, Moisés lembra e evoca o Êxodo. Para eles, o êxodo não era um fato só do passado. Era o Hoje deles. Era a experiência que eles estavam vivendo. Do começo ao fim, se repete: Hoje lhes ensino! Hoje ordeno! Hoje proclamo (cf. Dt 4,1.8.20. 38.40; 5,1. 3; 6,2.6.24; 7,11; 8,1.11.18; 10,13; 11,8.13.22.27.32; 13,19; 15,5.15; 19,9; etc.). O livro do Deuteronômio pede para o povo viver em estado permanente de Êxodo, pois a libertação não termina nunca, continua até hoje. Por isso, como diz o Papa Francisco, temos que “ser uma igreja em saída”.
A vida do povo deve ser um sinal da presença de Deus. Quando você vê cacos de vidro no chão, você conclui: “Alguém quebrou um copo!”. Naquele tempo, quando aparecia um pobre na comunidade, o profeta denunciava: “Alguém quebrou a aliança!” Pois a aliança era o compromisso solene de observar os Dez Mandamentos. Quando todos observam os Mandamentos de Deus, não surge pobre, nem poderia surgir. O povo responde à iniciativa de Deus vivendo em comunidade como irmãos e irmãs. Comunidade verdadeira é aquela que, na vivência da Palavra de Deus, revela igualdade, solidariedade e acolhida aos pobres: “Quando houver um pobre em teu meio, que seja um só dos teus irmãos numa só das tuas cidades, na terra que Yhwh teu Deus te dará, não endurecerás teu coração, nem fecharás a mão para com este teu irmão pobre; pelo contrário: abre-lhe a mão, emprestando o que lhe falta, na medida da sua necessidade” (Dt 15,7-8).
O Deuteronômio revela que o verdadeiro Deus é aquele que libertou o seu povo da escravidão do Egito e lhe garantiu a vida. Por isso, Ele pede para o povo se libertar do culto aos ídolos e adorar só a Yhwh, o Deus verdadeiro, que prefere a misericórdia e a justiça aos cultos nos lugares altos: 6“Eu sou Yhwh teu Deus, aquele que te fez sair da terra do Egito, da casa da escravidão- 7Não terás outros deuses diante de mim. 8Não farás para ti imagem esculpida, de nada que se assemelhe ao que existe lá em cima, no céu, ou cá embaixo na terra, ou nas águas que estão debaixo da terra”. (Dt 5,6-8). O motivo principal que os levava a transmitir a história do passado era o desejo de nunca esquecer a libertação que Deus realizou em favor do seu povo, tirando-o da escravidão do Egito. Parece até um refrão que sempre volta: “Não esqueça que Deus libertou você da escravidão do Egito (cf. (Dt 1,30; 4,20.34.37.45; 5,6.15; 6,12.21-22; 7,8.18; 8,14; 9,7.12.26; 10,22; 13,6.11; 15,15; 16,1.3.12; 17,16; 20,1; 24,9.18.22; 26,5.8; 29,1.24; 34,11).
O livro do Deuteronômio é o livro da Aliança de Deus com Israel. Foi Deus quem tomou a iniciativa da Aliança. Escrito vários séculos depois do Êxodo, o livro do Deuteronômio afirma: ”O Senhor nosso Deus fez aliança conosco em Horeb. Não foi com os nossos pais que o Senhor fez essa aliança, mas conosco que aqui estamos, todos vivos, hoje!” (Dt 5,2-3). Isto significa que, após mais de 600 anos, o Êxodo continuava sendo o Hoje deles! Na lembrança do povo, os tempos se misturam. O povo volta ao tempo do Êxodo, e traz o Êxodo para o hoje deles. Nós fazemos o mesmo. Cantamos: “O Povo de Deus no deserto andava”, e acrescentamos: ”Também sou teu povo Senhor e estou nesta estrada”.
Atualmente, além do Brasil, vários países da América Latina e África dedicam o mês de setembro à celebração da Bíblia.
- Leia o artigo do Frei Tailer Ferreira, OSA: O livro do Deuteronômio e sua história redacional
- Subsídio Encontros Bíblicos para o mês de setembro - Comissão de Publicações da Arquidiocese de Belo Horizonte. O roteiro está sendo disponibilizado pela internet, de modo gratuito. Clique aqui para acessar o material.