É Páscoa da Ressurreição de Jesus!
Iniciamos com a Vigília Pascal o Tempo da Páscoa, que se estende do Domingo da Ressurreição até o Domingo de Pentecostes. Santo Agostinho chama a Vigília Pascal de “a Mãe de todas as Vigílias”. Além do profundo significado espiritual que tem essa vigília para todos os cristãos, para Santo Agostinho ela se reveste de um significado pessoal extremamente marcante.
Foi na Vigília Pascal do dia 24 para o 25 de abril do ano 387 que ele, seu filho Adeodato e seu amigo Alípio foram batizados por Santo Ambrósio, em Milão, na Itália. Neste ano celebramos 1.637 anos do batismo de Santo Agostinho. É um convite para nós também valorizarmos o nosso próprio batismo, que nos fez nascer para a vida da fé, tendo sido gerados pela Mãe Igreja. A propósito, você sabe o dia em que foi batizado? Ele encontra-se registrado no Livro de Batismos da paróquia onde isso ocorreu.
O Tríduo Pascal, que engloba a Quinta-feira Santa, a Sexta-feira Santa e a Vigília Pascal-Domingo da Ressurreição, são os três dias mais importantes da celebração da nossa fé. São os dias em que celebramos a paixão, morte e ressurreição de Jesus.
Santo Agostinho faz um jogo de palavras com o duplo sentido da Páscoa: “passagem-paixão”. Recorda a paixão de Cristo e a sua passagem da morte para a vida.
São João Paulo II, ainda Papa, escreveu na carta aos sacerdotes, por ocasião da Quinta-feira Santa de 1999, “o Triduum Sacrum, os dias santos por excelência, durante os quais misteriosamente participamos no regresso de Cristo ao Pai, por meio da Sua Paixão, Morte e Ressurreição. De fato, a fé garante-nos que essa passagem de Cristo ao Pai, ou seja, a Sua Páscoa, não é um acontecimento que diga respeito só a Ele; também nós somos chamados a tomar parte nela: a Sua Páscoa é a nossa Páscoa”.
É a partir dessa “passagem maior” de nosso Senhor, Salvador e Irmão maior que damos um sentido mais profundo às passagens que fazem parte da nossa vida: da gestação ao nascimento, da infância à adolescência, da adolescência à juventude, da juventude à vida adulta, da vida adulta à vida senil, da vida senil à morte (quando somos agraciados com todas essas passagens!). Um dito antigo afirma: “depois de ter vivido uma vida, morreu”, ou seja, fez todas essas passagens antes de passar da vida à morte. Quantos nascituros, crianças, adolescentes, jovens e mesmo adultos não fizeram essa passagem, porque lhes tiraram a vida? Mas cremos que a morte não é a última passagem: há a passagem da morte para a Vida.
Poderíamos multiplicar as passagens às quais damos um sentido pascal: do ódio ao amor, do preconceito à compreensão, da violência à boa convivência, do egoísmo à solidariedade, da ditadura à democracia, da guerra à paz...
A nossa vida tem momentos de paixões, mortes e ressurreições.
O olhar da fé lhes dá um sentido mais profundo. No momento da paixão e morte, nem sempre entendemos os desígnios de Deus, mas a experiência da ressurreição, que sempre existe, dá sentido ao que parecia sem sentido, ou um novo sentido àquilo cujo sentido era ainda muito confuso. A isso chamo “viver a vida com ritmo pascal”.
Dessa forma, nós nos alimentamos de uma espiritualidade que nos mergulha no próprio mistério de Jesus Cristo, cuja paixão, morte e ressurreição são o horizonte maior de nossa caminhada aqui nesta terra.
Frei Luiz Antônio Pinheiro, OSA
Prior Provincial
Artigo publicado na coluna Reflexão, do Jornal Inquietude On-line, edição de março de 2024.