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30
nov/22

Tempo de pacificar os corações

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Agora, por ocasião da Copa Mundial, as cores verde e amarela voltaram a ser domínio de todos os brasileiros e brasileiras. Durante as eleições principalmente, mas não só, houve uma apropriação indevida dos símbolos nacionais, como se só uma parcela da população representasse as mais autênticas aspirações e compromissos da nação.

As polarizações, violências verbais, físicas e morais, em nome de interesses nacionais, suscitaram muitas reflexões. O que está acontecendo com o nosso país? Como se explica tamanha violência? Onde está a alma pacífica e a convivência harmoniosa que faz parte da “identidade brasileira”?

Será mesmo? Por trás dessa ideologia conciliatória escondem-se muitos interesses antagônicos, preconceitos arraigados, racismo congênito, dificuldade de respeitar diferenças, um monte de coisas que vieram à tona e que desmascaram um arsenal armazenado que começa a ser detonado por todos os cantos do país.

A Copa vai passar, conquiste ou não o Brasil o hexa. Se perder, haverá um período de “luto nacional”; se ganhar, será uma explosão de “festa nacional”, conciliando novamente, de um lado ou de outro, toda a nação.

Será mesmo? Estamos, digamos assim, numa espécie de “trégua”, que serve para a manipulação das consciências e afetos. Com isso a atenção se desvia dos grandes problemas e causas que a nação precisa considerar, como responsabilidade de todos e todas. Há um ódio que veio à tona e que precisa ser trabalhado.

Há, por baixo das disputas ideológicas, bandeiras partidárias e discursos programáticos, um aspecto que a análise social, política, econômica e cultural não consegue dar conta. É preciso descer ao fundo do poço do coração humano.

 Santo Agostinho, sobretudo em sua obra “A Cidade de Deus”, procurou entender as motivações e raízes mais profundas dos sentimentos viscerais, como o ódio, a paixão, o amor, a cólera, o desejo de paz. No coração humano travam-se as maiores batalhas que, do interior das pessoas, vão se espalhando na família, na cidade, no país, em todo o mundo.

É preciso prestar atenção a esse cadinho de emoções, pensamentos e desejos que fervilham no coração humano. É preciso pacificar os corações, trabalhar esse mundo interior. Não se trata simplesmente de domesticar, nem apicaçar. São Tiago bem observa: “De onde vêm as guerras e contendas que há entre vocês? Não vêm das paixões que guerreiam dentro de vocês?” (Tg 4,1).

Santo Agostinho ensina que, apesar de tudo, a paz é um desejo que late no mais profundo de todos os corações. Mas é preciso colocar “ordem” nas paixões do coração. A conquista da paz é um processo de construção que a pessoa deve empreender ao longo de toda a vida. Supõe um “projeto pedagógico”; deve ser entendido como uma “política pública” de interesse nacional; deve fazer parte dos fóruns da comunidade internacional das nações. É algo que tem consequências sociais, políticas, econômicas, culturais.

Iniciamos o belíssimo Tempo do Advento. Somos, pois, convidados novamente a preparar-nos para o Natal do Senhor, o “Príncipe da Paz”. Empenhemo-nos, com tudo o que estiver ao nosso alcance, para promover a paz: em nós, na família, em nosso bairro, na cidade, no nosso país, em todo o mundo. Por onde começar? “Não saia fora de você, volte para dentro: na pessoa interior habita a Verdade” (Santo Agostinho, A verdadeira religião 39,72). Poderíamos, com toda propriedade, também dizer, secundando o pensamento de Agostinho: “na pessoa interior habita a paz”.

É tempo de pacificar os corações.

Frei Luiz Antônio Pinheiro
Prior Provincial

- Artigo publicado na coluna Reflexão, do Jornal Inquietude On-line, edição de novembro de 2022.

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