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07
jul/23

Sobre escuta, tempo e repartir o pão: a arte de acompanhar

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Provocados pelo 3º Ano Vocacional do Brasil, chegamos à reflexão do seu quarto objetivo específico: “ACOMPANHAR cada jovem, de modo personalizado, em uma maior proximidade e compreensão, favorecendo seu protagonismo e impulsionando-o ao serviço generoso e à missão (cf. ChV, n. 30)” (Texto-base, n. 13). Essa reflexão nasce às vésperas de um momento muito singular, nosso Encontro Vocacional. E, certamente, desse contexto imediato, emergem muitas das intuições que aqui desejo compartilhar.

Inicialmente há de se registrar a utopia desse objetivo. Como um “não lugar”, indica-nos uma tarefa árdua, exigente, comprometedora. Nada está pronto e acabado, não há receitas, é preciso colocar os pés a caminho. Como um “bom lugar”, tece um horizonte de sentido, mobiliza o desejo, envolve. E, apesar de não dar certezas, é toque do futuro no presente que faz o coração arder. Para acompanhar, para ser companheiro e, portanto, repartir o pão (cum = com; panis = pão), é preciso ter corações ardentes e pés a caminho!

Mas... afinal, do que se trata esse acompanhamento? Por que acompanhar é tão importante? Quem são os envolvidos nesse processo? “O acompanhamento é um espaço privilegiado para a pessoa partilhar a sua vida, principalmente, uma oportunidade de acolher, tomar consciência e posicionar-se diante dos seus dons, dos seus talentos, das suas limitações e de suas fragilidades." [1] Trata-se, como nos recorda o Papa Francisco, de suscitar e acompanhar processos, jamais impor percursos, haja vista a singularidade e liberdade de cada pessoa (cf. Christus Vivit, 297). Tal movimento, por sua vez, “é sempre feito em um diálogo a três: o acompanhante espiritual, o vocacionado e o próprio Deus” (Texto-base, n. 73).            

Da experiência que temos realizado nessa arte de acompanhar, há pelo menos dois aspectos muito importantes: a escuta e o tempo. A escuta é fundamental para um bom acompanhamento. E aqui não se trata apenas de escutar o que é dito, mas, sobretudo, o não dito, aquilo que está dentro, no íntimo da pessoa. É preciso auscultar! Com muito respeito, à medida que o acompanhado o permite, adentrar ao terreno sagrado do coração, onde a pessoa é o que é, onde repousa-pulsa sua verdade. “Santo Agostinho convidava a escutar com o coração (corde audire), a acolher as palavras, não exteriormente nos ouvidos, mas espiritualmente nos corações: ‘Não tenhais o coração nos ouvidos, mas os ouvidos no coração." [2]

Essa escuta, por sua vez, acontece no tempo e exige tempo. “Não há dúvidas de que a vocação, como iniciativa divina, situa-se no kayrós, no tempo de Deus, impossível de ser mensurado, cronometrado. Não tem hora a vocação! Por outro lado, a resposta a esse chamado, como iniciativa humana, situa-se no cronos, no tempo da gente, marcado no relógio, no calendário.” [3] Por vezes, àqueles a quem é confiada a missão de acompanhar, muitas outras tarefas são solicitadas e o acompanhamento vai ficando de lado. Não basta mandar uma mensagem, propor uma leitura, dizer que acompanha. É preciso dedicar tempo, horas a fio, para essa interlocução salutar. A regularidade das conversas é fundamental. Quantas horas semanais nossos animadores vocacionais dedicam ao acompanhamento, personalizado, como nos propõe o objetivo do 3º Ano Vocacional?

Como dizíamos, às vésperas do nosso Encontro Vocacional – um dos momentos fortes do Itinerário Vocacional proposto aos jovens que desejam discernir sua vocação junto à Ordem de Santo Agostinho – é possível ainda compreender o acompanhamento na dedicação do frade que dá carona ao vocacionado até o local do encontro, no gesto daqueles e daquelas que preparam a casa, cozinham, acolhem. Tem acompanhamento personalizado na pequena identificação do quarto, no cartão de boas-vindas, no bombom... Acompanham aqueles que se preparam para conduzir os momentos de oração, as atividades reflexivas, esportivas e lúdicas... Acompanham aqueles e aquelas que acreditam no Evangelho da Vocação e generosamente respondem sim!

Frei Tailer Douglas Ferreira, OSA 
Promotor Vocacional

-Texto publicado na coluna PRO-VOCAÇÃO do Jornal Inquietude On-line, de junho de 2023.


[1] DURAU, Odair José. A arte da escuta e do acompanhamento. In: LEAL Valéria Andrade (org.). Evangelização juvenil: desafios e perspectivas. Brasília: Edições CNBB, 2022.

[2] PAPA FRANCISCO. Mensagem para o 56º Dia Mundial das Comunicações Sociais. 29 de maio de 2022.

[3] FERREIRA, Tailer Douglas. Vocação: entre o kayrós e o cronos – inícios de uma reflexão. Disponível em: <https://agostinianos.org.br/artigo/vocacao-entre-o-kayros-e-cronos-inicios-de-uma-reflexao/>. Acesso em: 07 jul. 2023.

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