Fale com o animador vocacional

Artigos

01
set/23

Ressignificando nossa fragilidade: perseverando no chamado de Deus

Imagem
Imagem

A vida humana é permeada por desafios, dificuldades e limitações, e é natural que, diante dessas circunstâncias, nos deparemos com nossa própria fragilidade. No entanto, ao adotarmos uma perspectiva de vida consagrada ou eclesial, podemos encontrar um caminho de esperança e superação. Neste artigo, abordaremos intuições do caminho a ser seguido para ressignificar nossa fragilidade, perseverando no chamado de Deus.

Com os recentes acontecimentos de suicídios no meio eclesial e religioso neste ano, é imprescindível que nos questionemos sobre a fragilidade humana. Nós, seres humanos, reconhecemos a nossa necessidade de cuidado e devemos permitir sermos cuidados. O documento “O dom da fidelidade e a alegria da perseverança”, da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica, nos oferece orientações sobre como responder ao chamado de Deus. “Reconhecer é aprender a discernir e a descobrir o que nos mantém à distância do drama humano real. Requerem-se, então, humildade, proximidade e empatia, para entrar em sintonia e perceber quais são as alegrias e esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem.” (IGREJA CATÓLICA, 2020, p. 21, grifo nosso)

O primeiro passo, portanto, para ressignificar nossa fragilidade é reconhecermos nossas limitações. Como seres humanos complexos, temos necessidades emocionais, psicológicas e espirituais. É fundamental compreendermos que buscar ajuda para lidar com essas limitações é uma atitude saudável e corajosa. Além do apoio da comunidade formativa em que estamos inseridos, é válido considerarmos o acompanhamento psicoterapêutico, que nos auxilia no desenvolvimento pessoal e na superação de desafios internos.

Paralelamente, é importante buscarmos apoio espiritual. Através da orientação de líderes religiosos, como diretor espiritual, religiosos, seminaristas ou padres próximos e os formadores, podemos encontrar orientações e conselhos que nos auxiliem no enfrentamento das dificuldades. Essa busca conjunta, tanto do apoio psicoterapêutico quanto do apoio espiritual, nos fortalece para enfrentar os desafios com maior resiliência. O documento que citamos no início nos dá a intuição de uma necessidade de discernimento e escuta, “É decisivo que se coloquem em atitude de escuta e discernimento, implorando, com confiança, à luz do Espírito Santo, para que Ele os ajude a ler a realidade com seriedade e serenidade” (IGREJA CATÓLICA, 2020, p. 11, grifo nosso). Isso nos leva a vivificar nossa fé em Deus.

A confiança em Deus desempenha um papel fundamental na ressignificação de nossa fragilidade. É necessário reavivarmos nossa experiência de fé, mergulhando nas Escrituras Sagradas, nas tradições religiosas e nas práticas espirituais que nos conectam com o divino. Meditar sobre os ensinamentos e testemunhos de pessoas que encontraram força em Deus, apesar de suas fraquezas, pode nos inspirar e renovar nossa confiança.

Nesse contexto, é importante lembrarmos que a confiança em Deus não significa ausência de dificuldades, mas sim a certeza de que Ele está conosco em meio às adversidades. Acreditarmos que Ele conhece nossas limitações e nos capacitará para enfrentar os desafios, fortalecendo-nos. Devemos sempre lembrar que, apesar de todas as nossas fragilidades, somos escolhidos e chamados a corresponder a esse convite.

O Papa Francisco, em uma de suas homilias, nos diz: “a vida religiosa ou clerical é composta de um amor relacional com Deus, e tem três características sobre esse afeto esponsal, ele é fiel, perseverante e fecundo” (FRANCISCO, 2015, p. 200). Deus não se cansa de nos amar, o Sumo Pontífice continua: “a fidelidade de Deus é o seu próprio Filho que foi enviado para a nossa redenção” (FRANCISCO, 2015, p. 203). Essa conexão com Ele se dá pela nossa vida de oração que é uma ligação direta.

A oração é um canal de comunicação com Deus, permitindo-nos desenvolver uma intimidade profunda com o divino. Ao dedicarmos tempo para a oração diária, estabelecemos um relacionamento mais próximo com Ele, compartilhando nossas alegrias, tristezas, medos e aspirações. Através desse diálogo sincero, encontramos consolo, discernimento e fortalecimento espiritual. A vida de oração se apresenta como um percurso de crescente fidelidade, onde o religioso ou o clérigo é guiado pelo Espírito. Quanto mais humildade na oração, a graça dos que pedem jamais é negada por Aquele que nos ama (cf. IGREJA CATÓLICA, 2020, p. 60). 

Para crescermos na intimidade com Deus, é útil explorarmos diferentes formas de oração, como a meditação, o cântico espiritual, a contemplação da natureza e a leitura espiritual. Cada indivíduo pode descobrir as práticas que melhor se adequam à sua espiritualidade pessoal. Através desses momentos de encontro com Deus, encontramos forças, renovação para enfrentar nossas fragilidades e seguir o chamado de Deus.

A comunidade de fé desempenha um papel significativo na ressignificação de nossa fragilidade. Valorizar as amizades e o encontro com o outro nos proporciona suporte emocional e espiritual. Ao compartilharmos nossas experiências, dificuldades e conquistas com pessoas que compartilham da mesma fé, encontramos encorajamento e aprendizado mútuo. Além disso, o compromisso com o bem comum fortalece nossa caminhada espiritual. Engajar-se em atividades comunitárias, como serviços voluntários e projetos sociais, nos ajuda a direcionar nossas fragilidades para um propósito maior. Através da comunidade de fé, encontramos o apoio necessário para perseverar no chamado de Deus, auxiliando-nos mutuamente a superar desafios e crescer na fé.

A conversão é um processo constante de amadurecimento espiritual. Para ressignificarmos nossa fragilidade e perseverarmos no chamado de Deus, é essencial cultivarmos uma vida de conversão contínua. Isso envolve um constante afastamento do pecado e uma busca constante de santidade, direcionando nossas vidas para os valores do Evangelho. Através da reflexão e do exame de consciência, identificamos as áreas em que precisamos melhorar e as fraquezas que nos impedem de responder plenamente ao chamado de Deus. Com humildade, abrimos espaço para a transformação interior, permitindo que Deus trabalhe em nós, fortalecendo-nos e capacitando-nos a superar nossas fragilidades.

O que fica para nós é o dever de ressignificarmos nossa fragilidade e perseverarmos no chamado de Deus. Isso envolve o reconhecimento de nossas limitações, o cultivo da confiança em Deus, a busca por intimidade através da oração, o apoio da comunidade de fé e uma vida de conversão contínua. Ao trilharmos esse caminho, encontramos a força e a alegria necessárias para corresponder ao chamado divino, mesmo em meio às nossas fraquezas.

William Felippe da Silva Coutinho
Aspirante agostiniano

+ Mapa do Site

Política de Privacidade
Cúria Provincial Agostiniana Rua Mato Grosso, 936, Santo Agostinho Belo Horizonte - MG, 30190-085 +55 (31) 2125-6879 comunicacao@agostinianos.org.br

Fique por dentro de tudo o que acontece na Província. Cadastre seu e-mail para receber nossa Newsletter.