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06
jun/23

Respeitando a capacidade de cada um

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O tempo presente exige cada vez mais de nós altas performances. Seja na vida coletiva, seja na pessoal, sempre somos chamados a realizar cada vez mais coisas. Para isso, utilizamo-nos de ferramentas como os coachings, mentorias ou similares. De fato, para viver o ritmo que se impõe a cada um de nós, a ajuda de estratégias de consumo como essas se faz realmente necessária.

A pergunta que nos resta é: esse é o caminho? Será que não teríamos que pensar o quanto podemos nos desvincular dessa realidade tão desgastante imposta a cada um de nós?

Na regra de vida deixada para seus irmãos, Agostinho de Hipona nos indica uma pista para essa reflexão. No capítulo 3, o filósofo reflete sobre como devemos olhar para as necessidades dos irmãos e o cuidado que devemos ter com respeito aos mais convalescidos.

“Pode acontecer que os de constituição mais delicada, devido à sua vida precedente, sejam tratados com alguma consideração na parte da comida. Nesse caso, os outros, mais robustos, devido a um outro hábito, não se importem com isso e nem julguem isso uma injustiça.” (Santo Agostinho in Regra de Santo Agostinho III, 16)

Santo Agostinho nos chama à sensibilidade e à empatia ao propor que vejamos a fraqueza dos nossos irmãos sem o julgamento pessoal de que estamos sendo injustiçados por partilharmos os bens de maneira diferenciada. Ou seja, cada um deve ser olhado a partir de sua necessidade. De fato, esse é um exercício contemporâneo para uma sociedade que prega que todos devem receber a mesma coisa ou que milita por certa “meritocracia” descontextualizada da realidade histórica. É difícil entender esse pensamento se sabemos que as condições temporais que constituem a nossa realidade não proporcionam uma justa medida para todos. E o sentimento de injustiça que muitas vezes sentimos parte dessa nossa falta de sensibilidade sobre a nossa própria história.

A caridade se expressa na capacidade de solidariedade que enxerga, não só as necessidades de cada uma das pessoas, mas promove o seu desenvolvimento e sua recuperação diante das debilidades impostas em sua história pessoal.

“Trabalhos bastante, todos os dias, evoluindo para Deus. Se formos testados ou ameaçados, não entremos em pânico, mas coloquemos nossas esperanças em Deus. Somos cristãos e nossa casa não é aqui. Como bons filhos, retornemos a casa; assim nosso curso será aprovado e guiado por esta decisão.” (Santo Agostinho in Sermão 16A, 13)

O cuidado com o irmão passa pelo respeito pelas suas capacidades sem menosprezá-las ou diminuí-lo por causa delas. A capacidade de ver no outro a potencialidade de ser uma pessoa melhor e de ajudá-lo no processo de reconhecer a sua história, incentivando a sua autonomia, passa a ser o nosso melhor trabalho diário nas relações humanas. Assim, demonstraremos que caminhamos juntos, não somente pelos caminhos do mundo, mas para a Pátria Celeste em cumprimento dos planos de Deus para cada um de nós.

Olhar para a vida dos outros, ser empático em suas debilidades, promover a sua autonomia e trabalhar junto para construir a esperança: são critérios fundamentais para vivermos a graça de Deus como uma regra a ser cumprida entre irmãos em Cristo.

Frei Arthur Vianna Ferreira, OSA
freiarthur@ymail.com

- Artigo publicado na coluna Fala Agostinho, do Jornal Inquietude On-line, edição de maio de 2023.

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