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O segundo objetivo específico do 3º Ano Vocacional do Brasil nos convida a “Aprofundar a Teologia da Graça e da Missão dentro da pedagogia vocacional, de maneira que esta gere discernimento e respostas concretas ao chamado divino, com liberdade e responsabilidade”. Não é de se estranhar que, em um ano cujo tema é “Vocação: Graça e Missão”, esteja no horizonte um aprofundamento acerca das teologias da Graça e da Missão. No entanto, o recorte que nos propõe o objetivo é que essa reflexão esteja dentro de uma pedagogia vocacional, ou, em outras palavras, a serviço de uma práxis vocacional. Nesse sentido, podemos nos perguntar: como a reflexão teológica acerca da graça e da missão poderá melhor servir à pastoral vocacional?

De fato, quando percorremos a história da Teologia Cristã, muito já se refletiu acerca da Graça e da Missão. Inúmeros homens e mulheres já se debruçaram sobre esses temas e nos ofereceram suas contribuições registradas em tratados, sumas, homilias, cartas, artigos, conferências, etc. Para nós, agostinianos, por exemplo, impossível falar sobre Graça sem mencionar Santo Agostinho, que tanto se dedicou a pensá-la. Conhecido como Doutor da Graça, o Bispo de Hipona dedicou ao tema várias obras, dentre as quais podemos destacar: O espírito e a letra, A natureza e a graça, A graça de Cristo e o pecado original, A graça e a liberdade, A correção e a graça, A predestinação dos santos e O dom da perseverança. Para ele, a Graça é sobretudo a operação divina nos seres humanos pela qual eles são movidos a conhecer e amar a Deus.

Agora, quando o assunto é missão, também muito temos a pensar. Num país que se constituiu historicamente a partir de diversas experiências missionárias, positivas ou não, a missão está no coração da Igreja no Brasil. Aliás, há um esforço em toda a Igreja para se recolocar em seu coração a missão de Jesus. A missão é a vida da Igreja. Somos missão, diria o Papa Francisco. E refletir sobre esse seu estatuto ontológico é fundamental para se evitar os erros já cometidos no passado, bem como descobrir as metodologias e linguagens mais adequadas para que o homem contemporâneo tome consciência dessa Boa Notícia que já o habita e que poderá enchê-lo de vida e sentido.

Ora, pensar, pois, uma Pastoral Vocacional a partir da Teologia da Graça e da Missão tem a ver como esse duplo esforço em reconhecer a iniciativa divina e a resposta de fé do ser humano. Qualquer pastoral vocacional que não dê a Deus o seu lugar, a primazia, poderá, por um lado, até favorecer a construção de projetos de vida, colaborar com a difícil tarefa das escolhas profissionais, mas jamais promover um verdadeiro e fecundo discernimento vocacional, aquela descoberta fundamental que coloca cada um de nós em relação:  “Para quem eu sou?”. Por outro lado, se a mesma pastoral vocacional não se abrir para a missão, para o apostolado, se não tocar a carne das pessoas, se não ajudar cada um de nós a responder à pergunta vocacional por excelência – “Para quem eu sou?” – promoverá, sem dúvidas, um ótimo caminho de autorrealização, mas jamais um caminho vocacional.

Enfim, o discernimento e as respostas concretas de que nos falam o objetivo em pauta só poderão ser alcançados com liberdade e responsabilidade, à medida que considerarmos esse dueto fundante da Vocação. Toda Vocação é Graça! Toda Vocação é Missão! Assim como nos ensinou a cantar Irmã Janete Silva:

“Toda vocação vem de Deus
E toda resposta só vem do amor
Toda missão é um jeito que Deus
Encontrou pra fazer a resposta valer esse amor”

 Que nossa vocação-resposta-missão faça valer esse amor!

Frei Tailer Douglas Ferreira, OSA

-Texto publicado na coluna PRO-VOCAÇÃO do Jornal Inquietude On-line, de março de 2023.