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19
mai/22

Quando todas as coisas falam de Deus

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O mundo contemporâneo nos empurra a uma única preocupação: as nossas próprias necessidades. É assim que o sistema econômico subsiste. Quanto mais criamos desejos, mais consumimos e, por conseguinte, nos consumimos. Deixamo-nos levar pelas demandas que nós mesmos criamos. E, ao final, o que encontramos é a nossa própria imagem refletida sobre todas as coisas que temos e construímos.

No entanto, a proposta do cristão católico deve ser contrária a essa premissa. Ao nos debruçarmos sobre o mundo, deveríamos buscar a grandeza de Deus e a sua face refletida sobre toda a realidade. E, mesmo que o homem transforme a natureza por suas próprias mãos, deveríamos louvar a Deus pela capacidade intelectual que Ele nos proporciona para construirmos um mundo adequado às necessidades, pessoais e coletivas, respeitando o ecossistema do qual fazemos parte.

Em Agostinho de Hipona podemos entender essa chave de leitura sobre a realidade. Como ele mesmo diz “Foi Deus o criador de toda a realidade, e dela não está longe, pois não a abandonou depois de criá-la. Dele ela vem e nEle existe. Ele está onde se saboreia a verdade. Ele está no íntimo do nosso coração.” - Confissões de Santo Agostinho IV, 18.

Assim sendo, a realidade vivida pelo homem está impregnada da presença grandiosa de Deus. E a experiência do tempo e espaço histórico deveriam nos ajudar a compreender essa vivência na capacidade do homem de criar – e recriar – a realidade. E, isso posto, estar apto para saborear a presença de Deus em todas as coisas. Ou seja, todas as coisas criadas falam sobre Deus. Através delas, somos chamados a valorizar a nossa relação com a própria vida e o que ela nos proporciona cotidianamente, pois “o tempo não para, nem passa em vão pelos nossos sentimentos, mas atua sobre o nosso espírito de modo surpreendente.” - Confissões de Santo Agostinho IV, 13.

De fato, o nosso olhar deveria estar organizado para voltarmos o nosso desejo para o encontro com Deus em todos os momentos da nossa vida. Principalmente nas relações estabelecidas entre os homens e a natureza. As nossas demandas devem encontrar eco na presença de Deus a partir da realidade concreta do mundo, pois, uma vez que a nossa preocupação estiver presa às realidades terrenas – que morrem e perecem –, o nosso destino estará enganchado no efêmero da vida em si mesma. Como Agostinho de Hipona nos recorda: “Para qualquer parte que se volte a alma humana, se não se fixa em Ti, se agarra à dor, ainda que se detenha nas belezas que estão fora de Ti e fora de si mesma, pois nada teriam de belo se não proviessem de Ti.” - Confissões IV, 15.

Este é o desafio: olhar a realidade na busca constante de enxergar Deus em todas as coisas. Se a sociedade contemporânea nos empurra para um consumo dos nossos próprios desejos, o nosso esforço deverá ir ao encontro da busca da manifestação de Deus na sua criação. Esse passo pode ser o início de uma mudança que nos leva a entender que, a seu tempo, poderemos escutar todas as coisas falarem de Deus. E, dessa forma, poderemos somar as nossas vozes a todas essas coisas criadas em grande coro de louvor a Deus, que permanece presente no meio de nós.

Frei Arthur Vianna Ferreira, OSA
freiarthur@ymail.com

-Artigo publicado na coluna Fala Agostinho, do Jornal Inquietude On-line, edição abril/maio de 2022.

Ilustração: Pxeira, Revista Xapuri

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