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23
jun/22

Quando o caminho se faz mais do que ao caminhar

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Estamos na metade do ano. E talvez seja momento de revermos a caminhada que estamos realizando junto aos nossos irmãos dentro do tempo-espaço-histórico (pós?) pandêmico. É chegada a hora de pensarmos a realidade a partir do caminho que construímos, tentando recuperar os laços pessoais – e sociais – dispersos ao longo do período obrigatório de distanciamento social.

Nessa perspectiva, este autor que escreve nesta coluna também se propôs a rever os caminhos desta coluna. E, quiçá, abre-se a oportunidade de ampliar o caminho de reflexão para outros sujeitos que também se inspiraram nos escritos de Santo Agostinho e que deixaram seus textos recolhidos para os religiosos agostinianos. Dessa forma, podemos começar esse percurso a partir de um dos santos interessantes da nossa Ordem Agostiniana: Santo Tomás de Vilanova.

Nascido em 1486 com o nome de Tomás Garcia Martinéz, esse religioso na cidade de Fuenllana, na Espanha, foi Doutor em Teologia e Bispo de Valência. Considerado um excelente professor, predicador e administrador, é conhecido pela sua temperança, inteligência e caridade com os pobres. Deixou vários sermões escritos sobre diversos temas. E, nesta altura da nossa caminhada, acreditamos que seja válido trazer alguns deles como reflexão para este espaço. Na verdade, ao trazer os escritos de outros santos da nossa ordem, podemos entender como é que Santo Agostinho influenciou pessoas ao longo da história e consolidou, assim, uma filosofia de vida seguida por homens e mulheres há 17 séculos depois de sua morte.

Um dos temas recorrentes de Tomás de Vilanova é sobre o caminho como uma construção entre os homens e Deus. Esse santo entende que o caminho é um processo que o cristão deve desejar ardentemente construir, pensando sempre que é tanto o lugar de encontro com Cristo quanto com o próprio irmão. Entende-se aqui como ‘caminhada cristã’ a própria ‘vida do ser humano’. E essa caminhada não se faz sem grande desapego das coisas pessoais e um ardente desejo de viver em comunidade na presença de Deus.

“É muito difícil caminhar. Quantos dissabores, quanto perigos para os caminhantes! Nós estamos de viagem, em peregrinação a Jerusalém. Quanto nos custa caminhar e quantos desafios. Porém, três coisas costumam aliviar as durezas do caminho, a saber: o amor, a companhia e o prêmio.” (Sermão de Santo Tomás de Vilanova 55, 1, 30)

Pensar não somente no caminho, mas no que levamos – e encontramos – na caminhada passa a ser o mais importante. Para esse santo, o fato de caminhar é existencial e inevitável. Dessa forma, devemos focar as maneiras com as quais realizamos a caminhada: o amor, que dá sentido ao que encontramos na caminhada; a companhia, que partilha o exercício de caminhar; e, por fim, o prêmio, ou seja, a finalidade pela qual nós fazemos o caminho.

E para viver essa caminhada não estamos sozinhos. Com diz Tomás de Vilanova: “Está Cristo conosco para que não desfaleçamos no caminho” (Sermão de Santo Tomás 172, 3, 43). Na verdade, Cristo é o princípio e o sentido (amor) para caminhar. E isso é animador para cada um dos caminhantes, pois “Seguindo o caminho que é Cristo, sentimos mais alegria do que se tivéssemos todas as riquezas. Se sentimos tanta alegria ao caminhar, como será na Pátria eterna?” (Sermão de Santo Tomás 177, 11, 222).

O caminho se faz ao caminhar. Isso não é novidade. Na forma de caminhar se encontra o ‘algo a mais’ que tanto buscamos. Ao iniciarmos essa escuta de Santo Tomás de Vilanova, podemos nos inspirar para refletir sobre o que fazemos ao longo do caminho da vida. E, assim, sermos mais sensíveis ao amor, às companhias e aos prêmios que esse caminho pode nos proporcionar. Ah! E sem esquecer que: se caminhar já traz alegria, imagine quando chegarmos ao final da caminhada! Pensemos juntos sobre isso.

Frei Arthur Vianna Ferreira, OSA
freiarthur@ymail.com

- Artigo publicado na coluna Fala Agostinho, do Jornal Inquietude On-line, edição junho de 2022.

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