A primeira presença dos agostinianos no Brasil data de 1693. Naquele ano, chegavam os frades da Real Congregação de Agostinhos Descalços, de Portugal. Tratava-se de um ramo da reforma observante da Ordem de Santo Agostinho. Assumiram a ermida da Palma, onde construíram a igreja e o mosteiro dedicados à Nossa Senhora da Palma, no bairro que ficou conhecido como Mouraria.
A primeira razão dessa fundação foi estabelecer nesse convento uma casa de repouso para os religiosos que trabalhavam nas missões das ilhas de São Tomé e Príncipe. No entanto, por algum tempo, funcionou aí um Noviciado. Em 1778, o convento foi transformado em hospital militar. Ao ser devolvido aos frades, a comunidade nunca passou de cinco ou seis religiosos, até que foram expulsos por Dom Pedro I, em 1824.
No século XIX, o Recolhimento da Palma abrigou o Seminário da Arquidiocese de São Salvador até 1856. Posteriormente, foi destinado para diferentes usos. Por algum tempo, serviu como sede da Reitoria da Universidade Católica de Salvador. O conjunto arquitetônico foi tombado pelo IPHAN em 1938. Atualmente, apenas a igreja passou por uma obra de restauração. O convento, apesar da boa estrutura, encontra-se muito avariado e necessita de um grande investimento para sua restauração.
Outra presença agostiniana em Salvador refere-se aos frades da Congregação de Agostinianos Recoletos, que se tornou independente da Ordem Agostiniana em 1912. Os Recoletos entraram em Salvador em 1901, assumindo vários trabalhos apostólicos. Em 1909, assumiram a Paróquia de Nossa Senhora da Conceição da Lapinha, onde permaneceram até 1947. Nessa paróquia, em 1916, foi fundada a Arquiconfraria de Nossa Senhora da Consolação e Correia, Santa Mônica e Santo Agostinho, que se manteve ativa mesmo depois da saída dos Agostinianos Recoletos. São 108 anos de fidelidade ao carisma recebido.
Mas seus membros sempre mantiveram vivo o desejo de reatar laços com os agostinianos. Foi quando, em 2021, através do site da nossa Província, estabeleceram contato conosco e Frei Anderson Domingues de Lima, OSA, que era na época o responsável pelo Movimento Laical Agostiniano, começou a acompanhar e visitar a Arquiconfraria. Desde então, a Província decidiu acompanhar esses irmãos e irmãs no seu caminho espiritual.
No final de setembro deste ano, juntamente com Frei Eberson Dionisio Naves, OSA, secretário provincial e coordenador do Movimento Laical Agostiniano, estive em Salvador, onde estabelecemos alguns contatos, sobretudo com os membros da Arquiconfraria da Consolação. Celebramos missa no domingo na Paróquia da Lapinha e, depois, tivemos uma confraternização e encontro com os “cinturados”, como são chamados aqueles que ingressaram na Arquiconfraria.
Também tivemos a oportunidade de ser recebidos em audiência pelo Cardeal Primaz do Brasil, Dom Sérgio da Rocha, Arcebispo de São Salvador da Bahia. Falamos de nossa histórica presença em Salvador, de nossas obras no Brasil. Ele apresentou-nos a realidade da Igreja em Salvador, suas riquezas e desafios. Manifestamos o sonho de um dia ter uma presença em Salvador, o que muito o alegrou.
Ele relatou as muitas dificuldades por que passa a maioria do povo soteropolitano: pobreza, extrema desigualdade, violência, marginalidade, comum à situação das grandes cidades brasileiras. Mas falou também da riqueza cultural que é Salvador, a religiosidade do povo e, sobretudo, uma gente de fé e feliz, acolhedora, que traz muita alegria em sua vida.
Quem sabe, nós agostinianos da Província da Consolação teremos um dia uma nova presença nesta abençoada “terra de gente de fé e feliz”? A Providência divina e os tempos futuros dirão... até lá, vamos sonhar!
Frei Luiz Antônio Pinheiro, OSA
Prior Provincial
Artigo publicado na coluna Reflexão, do Jornal Inquietude On-line, edição de setembro de 2024.
Foto de capa: Celebração com a Arquiconfraria, na Igreja da Lapinha, em maio de 2022 (Frei Anderson Domingues, OSA )
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