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05
out/19

O PERDÃO É O HOMEM EM RELAÇÃO

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O mundo atual é feito de relações que, muitas vezes, não possuem respaldo concreto na solidariedade que deve haver entre os seres humanos. As marcas destes desafetos gerados por estas relações podem ser vistas em nossa sociedade através de doenças, guerras, falta de trabalho, fome e tantas outras mazelas sociais. Na verdade, é a dignidade humana que se encontra ferida pela falta de um sentimento coletivo, muitas vezes lembrado, mas poucas vezes praticado, que é o perdão.

Agostinho de Hipona nos lembra muito bem que “Aquele que ofendeu a uma pessoa atraiu para si a sua perdição, pois não escutou a voz do teu Senhor.” (Sermão 114, 2). A raiz das nossas relações está no amor. Amor que devemos nutrir por todos e que verdadeiramente o temos se colocamos o mandamento de Deus em prática, através de nossas ações para com os nossos semelhantes. A falta de perdão é um sinal de que não conseguimos colocar esta verdade em prática. A falta de perdão se sobrepõe à nossa oração, pois desta forma o que falamos em nosso íntimo com Deus não conseguimos vivê-lo com o nosso próximo. “Perdoame como eu perdôo. É isto que diz na oração do Pai Nosso. Esta é a regra. Se queres que teu pedido de perdão seja acolhido por Deus, perdoa tu ao que te pede perdão.” (Carta 171 A, 1). Este descompasso entre a teoria e a prática de nossa fé causa todo o tipo de desarmonia em nossas relações interpessoais e que atingem as nossas famílias, comunidades e sociedades.

Em sua atividade pastoral como Bispo, Agostinho, já percebia que a dimensão do perdão é colocada como algo pequeno e justificável, ou seja, se põe um grande relevo sobre a ofensa muito mais do que a conseqüência do ato de não perdoar no seio da comunidade dos homens. “Não digas: ‘É uma coisa pequena, e logo se remedia’. Sem perdão nada e ninguém se remediarão sozinhos” (Sermão 114, 5). O perdão não vivenciado gera contenda. O desafeto entre irmãos produz mal estar no meio da comunidade e faz com que todo o corpo de Cristo, que é a Igreja, também fique enfermo. Esperar que o outro venha pedir perdão, também, não deixa de ser uma forma de banalizar os efeitos da falta de perdão. As inimizades e os rancores machucam o coração do cristão, paralisam a suas ações no mundo e não o deixam testemunhar a ressurreição de Cristo, que nada mais é do que transformar os momentos de morte em vida em plenitude a toda humanidade. “Não retenha em teu interior inimizade contra ninguém, porque maior é o mal que estes rancores causam em teu coração.” (Comentário a São João 1, 9).

O perdão é o homem em relação. Em relação com os outros, com a natureza e com Deus. “Eu te peço perdão de meus pecados e Tu queres que haja alguém a quem eu possa perdoar.” (Sermão 82, 4). Agostinho já intuía esta verdade em seu coração. Que além do perdão ajudar a libertar o coração do cristão, sanava o corpo da Igreja e restabelecia a harmonia das relações no mundo, porque a dinâmica do perdão evoca a presença de Deus àqueles que são atingidos pela graça do perdão. Basta, a cada um de nós tomar a iniciativa do perdão. Por que esperar que o outro venha pedir perdão? Por que se fazer de vítimas ou de indiferentes nas relações com os demais? Por que adiar a graça que Deus quer derramar sobre nós? “Eu quero ser perdoado. Então perdoarei. Esquecerei as ofensas que me foram proferidas e serão esquecidos os meus delitos. Quero receber. Então, darei. Somente assim, me será dado.” (Sermão 83, 2)

*Frei Arthur Vianna Ferreira, osa.

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