Vivemos uma crise civilizacional sem precedentes. Seus sinais se manifestam principalmente na crise ambiental que se faz sentir nas mudanças climáticas, nas reações da natureza contra a ação predatória do ser humano. Mas também num modelo econômico excludente que agiganta o fosso entre enriquecidos e empobrecidos, com a indiferença das grandes fortunas diante da miséria no planeta. A pandemia da Covid-19 colocou em xeque a capacidade da humanidade de lidar com sua inteligência e habilidade técnica. Ondas fundamentalistas, ultraconservadoras disseminam o ódio, o negacionismo, o autoritarismo, provocando violência e ameaçando as legítimas instituições democráticas.
Por outro lado, a humanidade avança na conquista tecnológica de uma forma que parece beirar a ficção científica; está interconectada diuturnamente, possibilitando inusitadas formas de sociabilidade e mesmo de inclusão, colaboração e solidariedade em escalas inimagináveis há pouco tempo. São oportunidades que não podem ficar nas mãos apenas de grupos poderosos, mas devem estar a serviço de uma real transformação da humanidade, estabelecendo pontes mais que levantando muros.
Outro mundo é possível?
Sim! Esse é o sonho, o projeto, o apelo do Papa Francisco.
O início de seu pontificado despertou curiosidade, interesse e reavivou a esperança de muitos. Seus gestos simples, seu estilo despojado, seu olhar sereno, sua voz mansa se mostraram não apenas como matéria midiática, mas foram adquirindo o contorno de um autêntico programa para enfrentar a crise civilizacional deste novo milênio. De um leve sussurro, sua mensagem, transmitida a princípio nas homilias em tom coloquial, foi encontrando eco nos corações, até se transformar numa voz profética que conclama toda a humanidade a uma conversão ecológica, a um estilo de vida mais simples, a uma nova economia e a um pacto educativo global, que implique inteligências e corações, numa grande aliança e permanente campanha humanitária.
Seus principais documentos, a exortação apostólica Evangelii Gaudium e as encíclicas Laudato Si’ e Fratelli tutti, apresentam a proposta de um “novo humanismo”, em que o ser humano deve se considerar não o centro despótico da criação, mas um guardião de todos os seres, um cuidador da Casa comum, um colaborador do Criador, um amigo e companheiro de caminho dos demais seres humanos.
Nestes tempos em que somos tentados a cair na superficialidade das análises; nos maniqueísmos de separar as pessoas entre o bem e o mal; na ingenuidade de acreditar em mensagens que nos chegam pelo WhatsApp, indico como leitura um livro prestimoso, escrito com muitas mãos, publicado pelo Núcleo de Estudos Sociopolíticos (Nesp), da PUC Minas e pela Editora Paulus: O novo humanismo: paradigmas civilizatórios do Papa Francisco.
A obra se organiza em quatro partes: a parte I aborda o pontificado de Francisco e a emergência de um novo humanismo. Na parte II, são analisados os tempos de mudanças, as mudanças de tempos. A parte III enfoca o novo humanismo no horizonte da esperança. Por sua vez, a parte IV apresenta os desafios atuais para um novo humanismo em ação.
Em tempos de mesmices, é tão bom encontrar boas leituras que nos ajudem a pensar outramente. Espero que você, leitora, leitor inquieto se interesse por esse tema tão atual e apaixonante. Boa leitura!
Frei Luiz Antônio Pinheiro, OSA
Prior Provincial
- Texto publicado na coluna Reflexão, do Jornal Inquietude On-line, edição de junho de 2022.
Saiba mais sobre o livro:
O NOVO HUMANISMO: Paradigmas civilizatórios para o século XXI a partir do Papa Francisco
Organização: Dom Joaquim Mol, Robson Sávio, Claudemir F. Alves e Adriana Penzim
Editora Paulus - Lançamento: 13 de maio de 2022
- Leia aqui o exemplar de degustação em PDF.
Live promovida pela CNBB - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, com a participação de Dom Joaquim Mol: