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nov/21

O estômago é um órgão político!

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Para além dos problemas biológicos e sociais da fome, existe um revés de dimensão política, dado que aquele indivíduo colocado numa situação de miséria acaba por ter sua perspectiva reduzida a uma visão de túnel. Isto é, ele é incapaz de pensar em outra coisa a não ser em sua própria sobrevivência, na necessidade de saciar o seu estômago.

Esse efeito de visão de túnel é o que considero uma das evidências da perversidade de nossa sociedade capitalista. Ao contrário do que se acha nos discursos de apologia ao capital, não é na emancipação dos sujeitos por meio da razão que se encontram as pessoas. Ao menos uma porção expressiva de seres humanos ainda vive em uma realidade em que não se superou a primitiva condição de ser coletor. Vide tantas imagens e matérias de jornais que mostram a busca sôfrega de pessoas por alimentos nos lixos das nossas cidades.

Para esses indivíduos, o liberalismo político não existe, porque primeiro as pessoas comem, só depois discutem. Portanto, urge não só uma obrigação moral da parte dos que ainda comem neste país de colocar essa realidade em debate, mas sobretudo, uma postura ética, isso se ainda quisermos defender uma sociedade democrática de direitos.

Isso posto, ao analisarmos as causas da fome no Brasil hoje, não há como não citar a inflação. A inflação que enfrentamos incide com maior peso na cesta de consumo da população brasileira. Com isso queremos dizer que itens como gás de cozinha, alimentos, aluguel, e outros artigos básicos para a sobrevivência da população mais pobre de nosso país sofreram um forte aumento, especialmente nos últimos doze meses.

O que se vive no país é um fenômeno que chamamos estagflação, isso significa que nossa economia não cresce e possui simultânea a essa estagnação uma inflação elevada. Dentre as inúmeras consequências dessa estagnação temos o desemprego, que hoje aflige em torno de mais de 14 milhões de pessoas, sem contar as quase 6 (milhões) em situação de desalento. Nas análises econômicas existe um dado que se chama o índice de miséria, ele é resultante da soma do desemprego com a inflação. Esse índice está acima de 24%, o maior desde o início da série histórica, significando que os pobres estão ficando cada vez mais miseráveis.

Diante desse cenário, resta-nos a seguinte pergunta: como podemos nos manter alheios a tantos estômagos famintos? Visto que, enquanto muitos têm recorrido ao lixo dos bairros mais ricos para achar o que comer, outros privilegiados estão discutindo o teto de gastos, visando exclusivamente aos seus rendimentos.

Está-se matando o povo brasileiro de fome em razão dos lucros de poucos. E, se existe alguém ganhando com tanta gente faminta, esse ganho é resultado de uma escolha política. Manter-se impassível diante dessa escolha maléfica é o mesmo que compactuar com ela.

* Publicação na coluna Pé no Chão do Jornal Inquietude On-line, de novembro de 2021

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