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31
ago/22

O discernimento vocacional e os sacramentos

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Dom Henrique Soares, em uma de suas pregações acerca da Solenidade de Pentecostes, afirmou que o Espírito Santo é uma fonte de vida divina que santifica aqueles que dela bebem. Dessa forma, pelo Espírito de Deus, todos nós somos santificados, pois bebemos dessa fonte de santidade que é a nascente pulsante, poço novo, que brota no Cristo ressuscitado e se expande na história pelo sopro do Espírito.

E temos nos Sacramentos da Igreja os momentos especiais de bebermos dessa fonte e nos deixarmos modelar pelas mãos do Oleiro. Falar da vida Sacramental é falar também de discernimento vocacional, pois ambos acontecem entrelaçados à medida que amadurecemos na vida e na fé. O catecismo da Igreja nos diz que “os sacramentos atingem todas as etapas e todos os momentos importantes da vida do cristão: dão à vida de fé do cristão origem e crescimento, cura e missão. Nisto existe certa semelhança entre as etapas da vida natural e as da vida espiritual” (CIC, Brasília, edições CNBB, 2013, p 403).

Podemos perceber que os Sacramentos coroam momentos importantes do nosso processo de amadurecimento da fé, levando-nos a viver a vida do Espírito nos períodos importantes da nossa vida. Antes, porém, é necessário um processo de discernimento vocacional (somos chamados à vida de Deus) que nos fará viver conscientemente a Graça incluída nos Sacramentos. Os Sacramentos nos dão a vida, e o discernimento nos faz entender a vida que recebemos.

É justo por isso que cada um dos Sacramentos exige uma preparação\discernimento. Desde o batismo, em que os pais e padrinhos discernem e prometem educar os filhos na fé dos apóstolos, passando pela Eucaristia, fonte de Vida em que o jovem se alimenta, até a Confirmação, quando, com sua própria voz e vontade, o fiel irá confirmar o desejo de viver a fé que lhe foi transmitida. Todo esse processo da iniciação à vida cristã é acompanhado por um profundo discernimento vocacional que nos levará a responder ao chamado de Deus e viver a vida que Ele nos ensina.

E não para por aí. Depois de vivenciados os três sacramentos da iniciação à vida cristã, é chegada a hora de nos comprometermos com a missão. Os fiéis são novamente inseridos em outro processo de discernimento que nos levará a assumir o nosso lugar na construção do Reino de Deus. Nesse sentido, temos os dois Sacramentos irmãos, Ordem e Matrimônio, que estão ordenados para a missão da Igreja e para a salvação dos outros. E estão localizados na vida adulta da fé e relacionados ao tipo de vida que sonhamos para nós mesmos e em como gastaremos o tesouro precioso que Deus nos confiou – a vida mesma.

Somados a esses, temos os dois Sacramentos de cura que são força na fraqueza e esperança nas tribulações. O Sacramento da Reconciliação e a Unção dos enfermos nos servem de cura da alma e do corpo. No Sacramento da Reconciliação, experimentamos o abraço paterno de Deus e somos curados dos nós causados pelo pecado. Nos momentos em que nosso corpo sente as limitações e angústias da enfermidade, a Unção dos enfermos nos concede esperança, cura e força. E, revigorados pela força dos Sacramentos de Cura, podemos seguir fielmente nossa vida e vocação.

Claro que as vocações na Igreja são mais plurais que o sacerdócio e o matrimônio (temos a vida religiosa, movimentos leigos, que apontam a pluralidade da ação do Espírito). Mas quero chamar a atenção é para a vida adulta na fé, que exige esse processo de discernimento que nos ajuda a encontrar a vontade de Deus que clama em nosso interior.

Muitas vezes, entendemos o processo de discernimento vocacional como algo exclusivo aos vocacionados à vida religiosa e sacerdotal. Mas, na verdade, todo crente vive um processo vocacional à medida que vai amadurecendo em sua fé e se fortalecendo pelos sacramentos. Nesse sentido, é importante resgatarmos e valorizarmos uma espiritualidade vocacional em todos os âmbitos da nossa fé, criando uma cultura vocacional que nos fará perceber que Deus nos chama o tempo todo e que precisamos discernir para escutar o seu chamado e assumir a nossa missão, fortalecendo-a na vivência dos sacramentos. Como nos afirma Cencini, um grande teólogo da cultura vocacional: “O próprio mistério vocacional exige tornar-se, ele mesmo, ‘cultura’ como um modo de pensar e viver – da parte de cada crente – o próprio ser Igreja, de ver O Sentido do próprio relacionamento com Deus, de interpretar a própria responsabilidade em relação à vida, aos outros, ao bem recebido, ao próprio Deus” (CENCINI, Amadeo. Construir Cultura Vocacional. São Paulo. Paulinas, 2013, p 22).

Por fim, que todos nós estejamos atentos aos processos que nos fazem beber da fonte que é o Espírito Santo. Cada passo, cada sim que damos deve ser antecedido por esse processo de escuta, reflexão, preparação, discernimento, que nos leva a entender a nossa vocação no mundo e na Igreja. A vida de Deus se expande na história. Que nossos processos de discernimento nos levem a reconhecer essa Vida, para, revestidos com a Graça dos Sacramentos, podermos, também nós, sermos sinais desse Reino novo no mundo.

Frei Maksuel Gomes Costa, OSA

*Texto publicado na coluna PRO-VOCAÇÃO do Jornal Inquietude On-line, de agosto de 2022.

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