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No dia 24 de janeiro de 2023 foi divulgada a mensagem do Papa Francisco para o 57º Dia Mundial das Comunicações Sociais, a ser celebrado no dia 21 de maio, cujo tema será “Falar com o coração. ‘Testemunhando a verdade no amor’ (Ef 4,15)”.  O Papa inicia sua reflexão recordando os movimentos dos anos anteriores: ir e ver; movimentos necessários para uma boa comunicação. E manifesta o desejo de, neste ano, deter-se em “Falar com o coração”.

O Papa traz em sua mensagem: "Após o nosso treino na escuta, que requer saber esperar e paciência, e o treino na renúncia a impor em detrimento dos outros o nosso ponto de vista, podemos entrar na dinâmica do diálogo e da partilha que é, em concreto, comunicar cordialmente”. A Igreja tem vivido um processo sinodal, seu papel é ouvir, uma escuta comunitária para que se identifique o que temos de positivo e de negativo na realização do “caminhar juntos” nos núcleos temáticos em que estamos envolvidos como Igreja.

Agora, o caminho é outro, existe um apelo, principalmente nos dias atuais, para que se fale com o coração, onde o mundo segue tão radical e propenso à indiferença e ao desrespeito baseado na desinformação e na banalização da verdade. De acordo com o Papa Francisco, não devemos ter medo de proclamar a verdade, mesmo ela sendo incômoda, mas sendo feita com amor, assim como enfatiza o Papa Bento XVI: “É um coração que vê”. O falar com o coração trata-se de algo que se revela a partir do seu pulsar, o verdadeiro sentido de ser, e a partir disso deve ser ouvido.

O Papa nos convida ainda a comunicar cordialmente, onde aquele que nos lê ou ouve deduz nossa participação nas alegrias e receios, nas esperanças e sofrimentos das mulheres e homens de hoje. Quem fala com coração mostra ver a existência do outro, em um mundo no qual vivemos tão superficialmente, onde o bem-estar e a forma de viver estão inseridos em pequenos vídeos. A figura de Jesus Ressuscitado fala com o coração; acompanhado de respeito, Jesus não se impõe, mas abre ao outro amorosamente a mente à compreensão do sentido.

A comunicação parte de coração para coração. O Pontífice traz como exemplo o grande Doutor da Igreja São Francisco Sales, para o qual, no coração e através do coração é que se realiza o sutil e intenso processo unitário em virtude do qual o homem reconhece a Deus. São Francisco conseguiu se comunicar até com surdos, provando, assim, falar de coração para coração, afinal, somos aquilo que comunicamos, uma lição para os dias atuais, tempo em que vivemos o ápice e crescimento das redes sociais, onde a comunicação é muitas vezes usada como instrumento para que possamos ser vistos, e não por aquilo que somos e desejamos ser.

O Papa Francisco enfatiza também a linguagem de paz. Hoje é necessária uma mansidão na comunicação, pois através dela é possível a promoção de uma cultura harmônica em lugares de guerra e, com isso, que seja aberto um diálogo e a reconciliação. É necessário falar também sobre o atual contexto de conflito global e a necessidade de uma comunicação não hostil, como recordava São João XXIII na Encíclica Pacem in terris: “a verdadeira paz entre os povos não se baseia em tal equilíbrio de armamentos, mas sim e exclusivamente na confiança mútua”.

Por fim, o Papa reforça que é necessário que, como cristãos, saibamos que é na conversão do coração que se decide o destino de paz. A partir do coração brotam as palavras certas, que são capazes de dissipar um mundo sombrio, fechado e dividido. É um esforço que é exigido por todos. E finaliza com a seguinte prece, que também fazemos nossa:

“Que o Senhor Jesus, Palavra pura que brota do coração do Pai, nos ajude a tornar a nossa comunicação livre, limpa e cordial. Que o Senhor Jesus, Palavra que Se fez carne, nos ajude a colocar-nos à escuta do palpitar dos corações, para nos reconhecermos como irmãos e irmãs e desativarmos a hostilidade que divide. Que o Senhor Jesus, Palavra de verdade e caridade, nos ajude a dizer a verdade no amor, para nos sentirmos guardiões uns dos outros”.

Marcos Felipy da Mota Carvalho
Formando agostiniano da Província Agostiniana Nossa Senhora da Consolação do Brasil, graduando em Filosofia no Instituto Santo Tomás de Aquino – ISTA.