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nov/21

Na brevidade da vida, a certeza da mudança

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O tempo passa veloz. E, mesmo assim, parece sempre que nunca chegamos ao futuro desejado. Todas as nossas coisas estão projetadas ao futuro. E o problema disso é o sentimento de que o presente se torna foco principal de nossa reflexão cotidiana. Na verdade, viver constantemente pensando no futuro é uma estratégia psíquica comum no ser humano. Assim, ele afasta de si a ideia angustiante de que todas as coisas presentes perecem em si mesmas. O futuro, que nunca chega, nos dá a sensação de que sempre temos uma chance de fazermos algo. E isso nem sempre é possível. Pensar no presente nos responsabiliza com o tempo histórico atual – e relacional – em que estamos imersos junto aos nossos semelhantes.

Essa preocupação sobre o tempo e a sua finitude também é algo relevante nos escritos de Agostinho de Hipona. Como o próprio filósofo diz, “O que é a vida do homem? A Sagrada Escritura define dizendo que é fumaça que se deixa ver por um instante e logo depois desaparece.” (Santo Agostinho in Comentário ao Salmo 64, 2-3). Essa brevidade da vida também nós constatamos neste momento histórico em que administramos nossas vidas na pandemia de COVID-19. Na verdade, o vírus nos ensina que a dor é o contorno da existência humana e que a perda, não somente é natural, mas é constitutiva de nossa presença no mundo. O presente nos acerta, nos fere e nos questiona.

É nessa brevidade da vida que devemos (re)pensar nossas atitudes e nossos desejos. O que queremos, verdadeiramente, individual e coletivamente? Agostinho nos adverte que essa reflexão deve nos levar a uma mudança concreta, exigindo de cada pessoa planejamentos e metas que sintonizem com a vida plena, que para nós cristãos católicos se confunde com a própria vontade de Deus. “Corrige-te, pois, meu filho, e procura estar preparado. Tema agora que tem tempo para temer. Se parece longe o dia do juízo final, teu último dia pode não estar longe, porque a vida é breve. Converta-te hoje, porque talvez não possa fazê-lo amanhã.” (Santo Agostinho in Comentário ao Salmo 36, 2,4).

Assim, temos que ponderar sempre quais as alegrias – e tristezas – da vida possuem um valor relevante para que a nossa vivência presente traga uma mudança concreta de atitude diante da efemeridade da vida social. Prender-se às realidades que nos desgastam não auxilia em nosso crescimento como ser humano. Apegar-se aos valores que nos ajudam a construir a melhor versão de nós mesmos é uma ação essencial no processo de desenvolvimento pessoal e coletivo. Esse exercício deve ser vivido por cada um de nós e ensinado para as novas gerações.

“Caminha pela senda da fé e ordena a tua vida. Viva como peregrino; saiba que está aqui de passagem, e peque menos.” (Sermão de Santo Agostinho 301, 9).

Ao colocarmos essa admoestação de Agostinho em prática, vamos entendendo cada vez mais que a certeza de que devemos mudar é o caminho que nos resta na brevidade da vida. É dessa forma que vamos nos tornando a melhor versão que podemos ser e, voltando-se para o nosso interior, nos aproximamos cada vez mais de Deus, que nunca se detém de forma breve em nossas vidas.

*Artigo publicado na coluna Fala Agostinho, do Jornal Inquietude on-line, de novembro de 2021.

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