“Eu sou a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a Tua palavra” (cf. Lc 1, 38) - o imperativo categórico desenvolvido e aceito por Maria impele aos homens compreenderem o quão majestoso e profundo é sua Assunção e Coroação – momentos vividos pela Igreja neste tempo. O fiat que Maria responde ao Espírito é a afirmação de uma nova geração eleita, ou seja, uma nova criação. Um novo Paraíso. Uma nova Eva que germinará o novo Adão. Mas também sobre “a humildade, que é o meio mais apropriado de vos assegurar este dom”, afirma o Doutor da Graça[1].
Maria, mais do que serva, se coloca à disposição de gerar o próprio “Doutor da Humildade”[2] – fazendo com que Jesus fosse como o Verbo, como o Filho e como a Sabedoria do próprio Pai. Maria garante a humanidade, ou seja, a pessoa de Cristo, pois, antes da carne, deu-se primeiro no coração.
“Não existe ninguém mais ilustre de predestinação que o próprio Mediador[3].” Com a predestinação, Agostinho salvaguarda a Graça, nada passa. Depois do exemplo do próprio Mestre, vem o da Virgem Maria. Deus escolheu uma maternidade pela qual Jesus pudesse nascer como homem e “encarnar no seio de uma Virgem”. Portanto, antes de ser mãe, Ela já era conhecia por Ele. “Por isso criou uma Virgem, para escolhê-la como Mãe, que não teria concebido segundo a lei da carne de pecado, ou seja, não por instinto de concupiscência carnal, mas que, com pia fé, teria merecido acolher em si o germe santo; e a escolhe para ser por Ele criado[4]”.
Deus manda seu Filho semelhante à matéria do pecado. Ele vem em virtude da fé da Virgem que o concebeu. Por isso a virgindade é tão grande bem entre os santos de Deus, esses devem guardá-la com a máxima vigilância, para não serem corrompidos pela soberba[5]. A maternidade espiritual de Maria em Agostinho deixa claro que “o poderoso fez em ti maravilhas e santo é o seu nome” (cf. Lc 1, 49). A grandeza de Maria não está tão somente no dado fisiológico, mas está no Espírito. A relação vem antes, que é a própria predestinação.
Agostinho vê na virgindade daquela que O concebeu um sinal frutuoso da divindade do Menino Jesus. Em Maria, o físico fala, mas o espiritual é a chave hermenêutica de toda a “revelação criacional”. Antes mesmo do Ave, Maria – ela já tinha oferecido a Deus a sua virgindade como espécie de expiação, nascida de modo espontâneo e sem nenhuma exigência. Por isso, para o Bispo de Hipona, o espiritual ecoa no interior de cada homem.
Maria, antes de tudo, era cristã, contudo, membro da Igreja. O lugar de Maria é no íntimo foro da Igreja, com a qual se mantém laços profundos. “Aquela única mulher, não somente no espírito, mas também no corpo, é mãe e virgem. Mãe no espírito, não da nossa cabeça, que é o próprio salvador, da qual ela nasceu espiritualmente, já que todos os que creem nele, entre os quais também está Maria, justamente são chamados filhos do esposo; mas ela é certamente a mãe de seus membros, que somos nós, pois cooperou, com a sua caridade, com o nascimento dos fiéis na Igreja, os quais são membros daquela cabeça. Quanto ao corpo, ela é mãe da própria cabeça[6].” Ela precisava da graça para não pecar e assim a teve.
Igreja e Maria são íntimas de forma medianeira da salvação dos homens. Maria é, para a humanidade, mãe do Espírito, não de Cristo, porque ela nasceu Dele. Maria é mãe dos membros do corpo de Cristo. O imperativo de afirmar “sim” ao anjo significa a caridade, ela ofereceu, para os homens, a Igreja terrena e perene. Maria, enquanto discípula, é mais importante do que ser propriamente mãe, pois é na “humildade de sua servidão” que transborda a graça respingada em toda a humanidade.
Ela lembra a nova Eva e, por meio dela, miramos o futuro de toda glória. Nela está o futuro da salvação humana. Deus ama a humanidade por primeiro e, por isso, preza por todos os seus filhos. Assim seja!
Rian Luiz Martins
Seminarista da Diocese da Campanha
Licenciado em Filosofia pela Faculdade Católica de Anápolis/GO e graduando em Teologia no III período na Faculdade Católica de Pouso Alegre.
Contato: rian2016luis@gmail.com
Bibliografia:
[1] A HUMILDADE NECESSÁRIA ÀS VIRGENS, 31
[2] Idem, 31
[3] DE DONO PERSEVERANTIAE, 24
[4] DE PECATORUM MERITIS ET REMISSIONE, 2, 24, 38
[5] A HUMILDADE NECESSÁRIA ÀS VIRGENS, 33
[6]A SANTA VIRGINDADE, 6