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nov/21

MÃOS À OBRA… “VÓS SOIS A CASA DE DEUS…” (cf. 1Pd 2,5)

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A Primeira Carta de São Pedro[1], escrita no período de transição da era apostólica para a pós-apostólica, por volta de 73-92 d.C, é um dos escritos do Novo Testamento que mais evidenciam a consciência que os primeiros cristãos tinham de si mesmo e da sua condição social. O escrito, atribuído ao apóstolo Pedro, foi remetido de Roma (“Babilônia”; cf. 1Pd 5,13) a cinco comunidades que viviam na diáspora, a saber: Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia (cf. 1Pd 1,1). Essas comunidades caracterizavam-se como pequenos grupos dentro da sociedade civil e não gozavam de nenhum apoio das autoridades, daí a expressão paroikos, que quer dizer “estrangeiros sem cidadania”. Ora, de fato, nesse período, assistiu-se a um forte movimento de migrações de gente sem terra, invasores e estrangeiros por todo o Império Romano. Sem nenhum respaldo legal, essas pessoas acabaram sendo colocadas à margem da sociedade.

Diante desse contexto sociopolítico de marginalização, a formação das comunidades cristãs foi uma maneira de satisfazer uma necessidade social e também espiritual. Em outras palavras, as comunidades tornaram-se uma forma de protesto social organizado e ao mesmo tempo de defesa daquelas pessoas. Segundo Nogueira, “em um silencioso protesto, eles assumem a sua condição de pobres e estrangeiros e lhe dão um novo sentido. No entanto, são pobres com uma herança, que o dinheiro não pode comprar. São estrangeiros, mas com uma família, uma casa, um lar que nenhum nascimento nobre pode legar. Através da vida em comunidade e do culto a Deus, eles adquirem nova identidade[2]".    Ora, os que viviam sem casa, abandonados a sua própria sorte, passaram a encontrar, na comunidade cristã, um ambiente de acolhida, de respeito, de fraternidade. A comunidade tornara-se casa, “Casa de Deus” (cf. 1Pd 4,17)

Esses cristãos, em sua maioria escravos, levavam uma vida humilhante. Para resistirem a essa situação exercitavam, por um lado, a humildade, a paciência, a obediência (cf. 1Pd 2,18-20); mas por outro, buscavam construir a partir dessas mesmas virtudes, um novo estilo de vida, pautado no serviço fraterno, na ajuda mútua, no amor (cf. 1Pd 3,8; 4,8-11). Por vezes foram incompreendidos. De fato, para quem estava de fora, a comunidade cristã era algo fechado, secreto, misterioso, mas para os que viviam na “casa de Deus”, era uma experiência dinâmica, exodal-pascal, de libertação, de resgate (cf. 1Pd 1,18-19). Não obstante, um dos maiores desafios era perseverar na missão e não desanimar. A Primeira Carta de São Pedro foi justamente uma tentativa de animar e ensinar essas comunidades a aproveitarem o tempo fora de sua pátria (paróquia; cf. 1Pd 1,17) para viverem uma vida exemplar no meio dos que não conheciam a Deus (cf. 1Pd 2,12).

Hoje, ao construir suas Diretrizes Evangelizadoras à imagem da Casa, a Igreja no Brasil lança um desafio a todos nós: sermos a Casa de Deus, de portas sempre abertas. “Casa é aqui a imagem de maior proximidade às pessoas, o lugar onde vivem, mesmo aquelas que só têm a rua como casa. Ela indica a proximidade relacional entre as pessoas que ali convivem. Indica igualmente a necessidade de a Igreja se fazer cada vez mais presente nos locais onde as pessoas estão, seja onde for.” (DGAE 2019-2023, 6).

É, pois tempo de redescobrir nossa vocação de Casa de Deus e seguir edificando-a, como bem nos ensinou Santo Agostinho: “mas a casa de Deus somos nós. Se nós é que somos a casa de Deus, continuemos construindo neste mundo, para sermos consagrados no fim dos tempos.” (Sermão 336,1.6) Mãos à obra!


[1] Cf. HOORNAERT, Eduardo. A memória do povo cristão: uma história da Igreja nos três primeiros séculos. Petrópolis: Vozes, 1986, p. 41-43. [2] NOGUEIRA, Paulo Augusto de Souza. Como ler as Cartas de Pedro: o evangelho dos sem-teto. São Paulo: Paulus, 2002, p. 28.

Frei Tailer Douglas Ferreira, OSA
Promotor Vocacional
*Texto publicado na coluna PRO-VOCAÇÃO do Jornal Inquietude On-line, de novembro de 2021

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