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03
mai/21

HUMILDES CONFORME A FRAGILIDADE HUMANA

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Começamos uma nova fase em nossas vidas, embora ainda vivamos à sombra dos tristes acontecimentos pregressos. Aos poucos, estabelecemos uma nova forma de viver. É falacioso dizer que calcaremos um ‘novo normal’. O que alcançamos traçar é uma forma de restabelecer a vida cotidiana dentro de um novo marco histórico e cultural. Os laços sociais ganham novas dimensões. E surgem novas estratégias para demarcar a vida social a partir de novos sentidos como seres humanos.

Na verdade, todos os acontecimentos até o presente momento nos apontaram uma única coisa: a fragilidade do ser humano frente a natureza e a dinâmica da história. Somos seres transitórios e a intencionalidade de nossas obras está em nossa habilidade de usarmos o capital científico e cultural que a humanidade construiu até o presente momento. A realidade pandêmica nos ensinou que devemos ter certa humildade diante do ‘devir’ – dimensão filosófica da vida, na qual jamais teremos controle. Ao mesmo tempo que a humanidade nunca sairá impune a sua diligência.

Agostinho de Hipona, ao longo de seus escritos, recorda ao homem que a humildade é uma das virtudes principais. E a humildade apregoada por esse filósofo está relacionada com a fragilidade do ser humano frente ao que acontece na história e que será regida, não por ele, mas pela própria divindade. “Ninguém te disse para seres menos do que és, mas para te reconheceres como és. Reconhece-te como débil e pecador. Aceitando e confessando teus erros, obténs o certificado de associação ao próprio Cristo.” (Sermão de Santo Agostinho 137, 4,4)

O reconhecimento dos erros e das limitações humanas abre caminhos para coisas maiores aos seres humanos. A humildade é o reconhecimento da limitação, ao mesmo tempo que abre a potência humana para vivenciar os desafios próprios da vida. Essa atitude proporciona ao homem sair do ciclo vicioso das lamúrias e das depressões que nos afastam do ideal de viver conforme o mundo se apresenta a nós. Deus nos constitui parte da natureza criada por Ele. E, com ela, devemos aprender, interligados com o todo do ecossistema, a nutrir o nosso potencial humano. “Observa a árvore. A fim de crescer para cima, primeiro cresce para baixo. Primeiro ela finca sua raiz na humildade da terra para depois lançar suas grimpas ao alto céu.” (Sermão de Santo Agostinho 117, 17)

O estatuto da humildade passa a ser um elemento importante para planejarmos a nossa vida de acordo com as intempéries do mundo. Ao compreendermos as nossas limitações não retiramos a insensatez humana. Aquele que põe a sua confiança apenas em si, em suas decisões e em suas atitudes dissonantes ao seu grupo social - e aos acontecimentos da história – entra em estado de negação da realidade. E, assim, torna-se responsável pela morte de tantos irmãos que sofrem a displicência de seus atos, seja de ordem privada ou pública. Isso é o oposto a humildade de se reconhecer humano e, consequentemente, interdependente da natureza em suas manifestações físicas e metafísicas.

“Ai dos fortes que não têm necessidade de médico! Sua fortaleza não é saúde, é loucura. Existe alguém mais forte do que o frenético? E, todavia, quanto mais forte está, mais perto está da morte.” (Santo Agostinho in Comentário ao Salmo 120, 14) O tempo atual pede que reconheçamos as nossas fragilidades. E isso nos aproxima da humildade, que é uma das virtudes que nos mantém prudentes, e vivos, como espécie humana. Os seres humanos que se mostram fortes e negam a realidade da vida são ineptos e enjeitam o poder transformador da humildade. Uma vez reconhecida a nossa fragilidade, devemos nos entender como seres interligados. É essa consciência que nos impede de sucumbirmos à morte. E sobre essa égide é que devemos pensar – e agir – na realidade social do terceiro decênio do século XXI. Proveja Deus, possamos alcançar a vivência dessa humildade transformadora diante da realidade humana, mantendo-nos vivos por mais alguns anos na história da humanidade.

Frei Arthur Vianna Ferreira, OSA.
freiarthur@ymail.com

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