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06
set/21

Fome de justiça para quem tem pão

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Conforme nossa edição anterior, no texto “Pão para quem tem fome”, partimos do entendimento de que a fome, embora tenha sido tratada por muito tempo como um problema resultante de catástrofes naturais, guerras ou, como hoje, consequência da pandemia da Covid-19, é, antes de mais nada, uma consequência da forma humana de se organizar e se constituir.

Existe em nosso imaginário uma ideia de que, quanto mais desenvolvido um país ou mais rica uma nação, menor será a incidência da fome e da desigualdade social nessa sociedade. Embora pareça uma lógica simples, essa relação de causa e efeito não é tão direta quanto possamos imaginar.

Façamos um comparativo simples num período pré-pandêmico: o Brasil produziu no ano de 2019 algo em torno de 1,84 trilhão de dólares de riqueza (Esse é o nosso PIB). Se pegarmos esse valor e dividirmos pelo número de pessoas que vivem em nosso país, teremos algo próximo de 8.600,00 dólares (Esse é o nosso PIB per capita). A China é a segunda maior economia do mundo, produzindo um PIB de 14,34 trilhões de dólares em 2019; nesse mesmo período, o PIB per capita foi de 10.261,00 dólares. Embora o valor per capita seja próximo entre esses dois países, a China possui 1,398 bilhão de habitantes, e o Brasil, 211 milhões.

Outra coisa que vale observar é o fato de que, na contramão da economia mundial, em 2020 a China erradicou a extrema pobreza do seu território. E como já vimos na edição anterior do Inquietude, o Brasil volta a ter os mesmos índices de fome de 2004. Diante desses dados e comparativos é preciso nos questionarmos as razões e as causas da fome no mundo e, em especial, em nosso país. Como um país rico, com um PIB per capita razoavelmente próximo ao nosso, erradica a extrema pobreza e, no mesmo período, o nosso regride à realidade de 17 anos atrás?

            Longe de querer dar uma resposta simples ou sugerir soluções simplórias. Nossa motivação é inspirada na frase atribuída a Dom Helder Câmara: “Quando dou comida aos pobres, me chamam de santo. Quando pergunto por que eles são pobres, me chamam de comunista”. Isto é, queremos acenar para a necessidade de dar dois passos, o primeiro, é saciar a fome. Ela não espera! Como dizia o célebre sociólogo brasileiro Herbert José de Souza, ou, como costumava ser chamado, ‘Betinho’: “Quem tem fome tem pressa!”. O segundo passo é nos questionarmos sobre as causas de tanta pobreza, fome e miséria, ainda que nos acusem.

            O que lhes parece? Há falta de riqueza em nosso país? Como podemos ter em nosso meio pessoas fazendo fila para comer osso, num mesmo estado que tem mais boi do que gente? Como é possível a falta de arroz e feijão no prato num país que tem batido recordes de produção de alimentos nos últimos anos?

            Se essa realidade não nos comove e não nos faz ter compaixão pelo próximo, é preciso parar e repensar a nossa caminhada de cristãos e a nossa condição e entendimento de humanidade. E, quando dizemos compaixão, não entenda como sentimentalismo ou romancismo. Queremos atentar ao sentimento originário da palavra grega “Esplagnisomai”, isto é, que mexe com as vísceras; como num soco na barriga; que nos transtorna. Que nos produza a fome de justiça!

Frei Paulo Henrique Cintra, OSA
Comissão de Justiça e Paz
* Publicação: coluna Pé no Chão do Jornal Inquietude On-line, de setembro de 2021

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