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26
jul/22

Fazer bem o bem que deve ser feito

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A realidade contemporânea é marcada por um grande volume de atividade que somos impelidos a realizar. Sentimo-nos úteis pelas coisas que fazemos. Isso é reflexo de um desejo humano de reconhecimento pessoal pelo que fazemos no mundo. Contudo, as coisas que realizamos não representam, necessariamente, aquilo que somos ou desejamos em nossa vida.

Nessa perspectiva, a “Fé” como um substantivo pode ser uma chave para que possamos mudar essa mentalidade em nossa vida. A fé é algo que deve ser vivenciada como um dos primeiros parâmetros motivacionais para o nosso “saber-fazer” no mundo. Santo Agostinho insistia nisso em seus escritos quando dizia “Não queiras entender para crer, crê para que possas entender. Se não crês, não entenderás.” (Santo Agostinho in Sermão 118,1). As crenças e as motivações que nos movimentam ampliam a nossa própria compreensão de vida e nos coloca em outro lugar social. O intelecto nos leva a muitos lugares e conclusões sobre a realidade a nossa volta, mas é a fé em alguma coisa (como Deus, ciência, humanidade, solidariedade, justiça, entre outros) que dá sentido ao que fazemos concretamente ao longo da nossa existência.

Quiçá o que nos falta é um pouco a capacidade de reconhecer que não somos o princípio e o fim de todas as coisas existentes. Somos verdadeiramente autorreferentes, ou seja, compreendemos o mundo através de nossos corpos biológicos e dos nossos sentidos. Contudo, eles não são os pressupostos de verdade absoluta sobre o mundo e a sociedade. Eles são apenas formas de entrarmos em contato com o mundo e de nos organizarmos para vivê-lo, buscando certo bem-estar. A questão principal está em que utilizamos a nós mesmos (e, consequentemente, os pressupostos de nossa fé) como o único parâmetro para julgamento de todas as coisas. E, por muitas vezes, somos levados a atitudes de agressividade, discordâncias e conflitos que prejudicam a convivência entre os seres humanos.

Nesse sentido, Santo Agostinho pode ser uma chave importante para irmos desconstruindo essa ideia dentro de cada um de nós. “Na escola do senhor, todos somos condiscípulos.” (Santo Agostinho in Sermão 242,1). Dessa forma, nós não temos todas as respostas para as coisas que existem. Estamos em um constante processo de aprendizagem uns com os outros. E, aquilo que fazemos – e muitas vezes como especialistas que somos em algum aspecto da realidade – apenas representa uma compreensão diferenciada de parte da vida. Não significa que não temos sempre algo a aprender. O dispositivo da fé pode nos motivar a certa disposição a uma humildade que nos faça entender o estado de incompletude em nós que estimula a viver em processo constante de aprendizagem em sociedade.

Infelizmente, o mundo não gira em torno dos nossos desejos. E nem todas as coisas que gostaríamos de fazer acontecerão do jeito que planejamos. Isso é fato! O que nos resta é guardar o que Santo Agostinho nos recorda: “Faze aquilo que deves fazer, e faze-o muito bem.” (Santo Agostinho in Comentário aos Salmos, 34, 2). Porém, fazer o que deve ser feito já não é muita coisa? A resposta é não. É necessário fazê-lo muito bem. Contudo, é importante fazê-lo de maneira útil, positiva, dedicada e esmerada. Com a fé, de que aquilo que você contribui para o mundo será importante para a aprendizagem de outras pessoas que você encontrar no mundo. Já que todos somos condiscípulos de um mesmo mestre – ou seja, Deus – estamos em um grande campo de aprendizagem social e, consequentemente, em uma ação pedagógica. E essa se fará responsável tanto pelo crescimento pessoal quanto daqueles que partilham conosco da vida cotidiana. Eis o nosso desafio diário.

- Artigo publicado na coluna Fala Agostinho, do Jornal Inquietude On-line, edição julho de 2022.

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