De alguma forma já nos acostumamos a estas expressões: “sínodo”, “Igreja sinodal”, “sinodalidade”. Elas indicam a compreensão de Igreja que o Papa Francisco tem procurado imprimir à dinâmica do Povo de Deus. A maneira que Deus espera que a Igreja seja neste terceiro milênio já está contida na palavra “sínodo”: “caminhar juntos”.
Tenho dedicado vários artigos no Inquietude para tratar desse tema. Sobretudo, ao apresentar experiências, instituições, propostas desse “caminhar juntos”. De maneira particular, a vida consagrada representa, nas suas diversas modalidades, ao longo da história, esse jeito de “caminhar juntos” na vida da Igreja. Aliás, uma das características da vida religiosa (institutos, ordens, congregações, sociedades apostólicas) é a comunhão com a Igreja. A vida consagrada agostiniana possui, por inspiração e exemplo do próprio Santo Agostinho, uma perspectiva sinodal. Tal perspectiva aparece de maneira muito clara num dos pilares da espiritualidade agostiniana, que é o serviço à Igreja e à sociedade.
Santo Agostinho deixou um legado espiritual que é patrimônio não só da Igreja, mas de toda a humanidade. Seu ideal de vida monástica, elaborado e vivido a partir do modelo das primeiras comunidades cristãs, serviu de base para numerosas famílias religiosas, nos seus três grandes ramos: frades/freiras, monges/monjas e leigos/leigas. São várias as obras de Santo Agostinho que abordam esse aspecto. No entanto, é na sua Regra que vemos espelhado, de maneira mais definida, o seu carisma. Ao longo da história, mais de 500 institutos religiosos assumiram ou assumem a Regra de Santo Agostinho como “caminho de espiritualidade e vida cristã”.
Dentre esses, destacam-se aqueles que historicamente assumiram de maneira efetiva e afetiva o legado espiritual de Santo Agostinho, considerando-o “pai, mestre e fundador”, a saber: Ordem de Santo Agostinho (OSA), Ordem dos Agostinianos Recoletos (OAR) e Ordem dos Agostinianos Descalços (OAD). Essas ordens e alguns institutos que seguem a Regra de Santo Agostinho integram a Grande Família Agostiniana que, no Brasil, tem sua organização institucional na Federação Agostiniana Brasileira (Fabra).
O núcleo inicial da Fabra se constituiu em 1975, quando foram celebrados os 75 anos da chegada da OAR e da OSA no Brasil. De 14 a 17 de janeiro daquele ano, ocorreu o 1º Encontro Nacional Agostiniano, cujo tema central foi “Reflexão vivencial sobre a vida e a doutrina de Santo Agostinho”, no mosteiro de Itaici, em Indaiatuba/SP. O 2º Encontro Nacional Agostiniano ocorreu de 2 a 6 de fevereiro de 1981, também em Itaici, com o tema “Oração, contemplação e vida comunitária em Santo Agostinho”. O 3º Encontro foi realizado de 2 a 6 de janeiro de 1984, no Centro Santa Fé, em Perus/SP, com o tema “Eclesiologia no pensamento do Hiponense”. A partir daí, esses encontros passaram a se denominar congressos.
Já o IV Congresso Nacional Agostiniano realizou-se de 5 a 9 de janeiro de 1987, no Colégio Agostiniano Mendel, em São Paulo/SP, por ocasião do XVI Centenário da Conversão de Santo Agostinho (386-1986). Nesse congresso, refletiu-se sobre o significado da conversão na vida e na obra de Santo Agostinho e na realidade latino-americana. Na Eucaristia de encerramento, Dom Luciano Mendes de Almeida SJ (então bispo auxiliar de São Paulo) concitava os agostinianos e as agostinianas a resgatarem e divulgarem a figura de Santo Agostinho, suas obras e sua espiritualidade, como um autêntico serviço à Igreja e ao povo brasileiro, marcando uma efetiva presença na vida eclesial e social, através da vida comunitária agostiniana, um sinal profético para nossos tempos.
Naquele congresso foi aprovada a proposta da criação da Federação Agostiniana Brasileira (Fabra), marcando assim uma nova etapa do “caminhar juntos” da Grande Família Agostiniana. A reunião inaugural deu-se no dia 25 de fevereiro de 1988, na sede da então Vice-Província do Brasil, da OSA, em São Paulo, capital, onde até hoje se encontra também a sede da Fabra. Treze circunscrições agostinianas assinaram a ata de fundação.
Atualmente, a Fabra constitui-se de dezessete circunscrições agostinianas presentes no Brasil, ordens e congregações tanto masculinas como femininas. Um dos destaques da história da Fabra é o envolvimento e a participação de leigos(as) atuantes das Fraternidades Agostinianas Leigas, paróquias, colégios, missões, obras sociais e outras iniciativas.
O XV Congresso Nacional Agostiniano, realizado de 24 a 28 de julho de 2023, após vários adiamentos por causa da pandemia da Covid-19, foi um verdadeiro acontecimento da caminhada sinodal da Grande Família Agostiniana no Brasil. Significativo que o local desse congresso tenha sido Itaici, onde ocorreram os dois primeiros. O tema “Igreja e profetismo à luz de Agostinho”, com o lema “Chamados a ser profetas hoje”, representa um sinal profético, na alegria do encontro, da convivência e da partilha, quando reafirmamos nosso compromisso de caminhar juntos com a Igreja, a serviço das grandes causas pela vida do povo brasileiro.
- Texto publicado na coluna Reflexão, do Jornal Inquietude On-line, de julho de 2023.
*Imagem: Olga Suely Pellucci - Caminhada Profética, Fabra 2023.
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