A cada início de ano, somos interpelados por inúmeros desejos, sonhos e planos para o novo ciclo que se inicia. Queremos fazer novos empreendimentos, comprar um carro novo, ou até mesmo mudar de cidade, estado, país... As mudanças são necessárias para que, com novos ciclos, possamos nos transformar em pessoas novas. Assim, conseguiremos conviver de maneira diferente com a sociedade, contribuindo para a construção de uma nova realidade. Porém, as mudanças nem sempre são agradáveis, pois elas provocam movimentos de transformação, e isso faz com que muitas estruturas – que estavam sólidas – fiquem impactadas com a força provocada nesse processo.
Santo Agostinho nos ajuda a fazer essa reflexão desde o exemplo da sua própria vida. A sua conversão é sinal de que a mudança é possível no coração da humanidade. Logo, o movimento da mudança deve ser oriundo do interior e com o propósito de viver, com o auxílio de Deus, tempos melhores. O próprio Agostinho já nos interpelou: "Mudem as pessoas e os tempos serão melhores.” (Sermão 311,8,8). Cada novo ciclo, cada mudança realizada deve ser inspirada pelo propósito de vivermos tempos melhores, desde nosso interior até a amplitude da convivência com os demais. Afinal, a mudança somente acontece quando sou capaz de conviver ao longo da vida com as diferenças existentes no mundo e no outro.
A vida é fruto de movimentos, movimentos geradores de mudanças! A própria vida nos impulsiona a mudanças constantes, quer estejamos dispostos a esse propósito ou não. Neste novo ano que se inicia, que possamos compreender que a nossa vocação primeira, chamados a viver, nos auxilia em nossas buscas vocacionais e existenciais, através dos movimentos vitais. Para isso, é sumamente importante a proximidade com Deus, que nos solicita uma nova forma de ver a vida e de nos posicionarmos frente à mesma.
Em 2024, muito mais que promessas vazias e repletas de ideias inalcançáveis, busquemos uma nova estação vocacional. Com movimentos de mudança, tomemos consciência da nossa própria e ativa responsabilidade para com a vida. Agostinho nos estimula: “Caminha pela senda da fé e ordena a tua vida. Viva como peregrino!” (Sermão 301,9). Viver em constante peregrinação é estar aberto às mudanças, tendo em vista um caminho a ser percorrido e com estímulos de não abandonar a meta, mesmo com as adversidades.
Busquemos ser peregrinos que, voltando-se para o nosso interior, aproximemo-nos cada vez mais de Deus, e assim consigamos escutar a voz do Mestre e tomar consciência de nossa vocação. Sigamos, em peregrinação, rumo a uma nova estação vocacional!
Frei Caio Filipe de Lima Pereira, OSA
Promotor Vocacional
- Artigo publicado na coluna ProVocação, do Jornal Inquietude On-line, edição de janeiro de 2024.