Neste ano de 2023 celebramos o 3º Ano Vocacional: refletimos, rezamos, tomamos maior consciência das vocações na vida da Igreja. Em nossa Província da Consolação, recitamos uma espécie de refrão dinamizador: “vocacionalizar a vida da Província”. Todos somos vocacionados: em primeiro lugar, chamados à vida, dom precioso dado gratuitamente por Deus a cada um e a cada uma de nós. Para todos os que creem em Jesus Cristo, Filho de Deus, há uma vocação fundamental que é a certidão de identidade de todo cristão: chamados a ser filhos e filhas de Deus, pelo batismo. Do batismo brotam as demais vocações especiais: ao matrimônio e à vida familiar, aos ministérios leigos, à vida consagrada e ao sacerdócio.
O texto bíblico inspirador foi tirado do episódio da aparição de Jesus Ressuscitado aos “discípulos de Emaús”: “Não ardia o nosso coração quando Ele nos falava pelo caminho, quando nos explicava as Escrituras? Naquela mesma hora, levantaram-se e voltaram para Jerusalém” (Lc 24, 32-33a).
Os anos temáticos na vida da Igreja são como uma espécie de farol que norteiam a caminhada, focando um aspecto da espiritualidade e da pastoral. Uma vez acesos, continuam, ainda que com menos intensidade, a iluminar a estrada. Assim também acontece com este 3º Ano Vocacional, ele está terminando... Mas sempre há um caminho a trilhar, para anunciar a Boa Nova de Jesus. E se com Ele caminharmos, todos juntos, certamente nosso coração continuará a arder.
Dom Hélder Câmara costumava dizer: “É uma graça divina começar bem. Graça maior é persistir na caminhada certa. Mas graça das graças é não desistir nunca!”.
Com relação ao propósito deste ano vocacional, queremos continuar nessa perspectiva e, por isso, contamos com você, leitor, leitora do “Inquietude”. Este periódico começou há 32 anos, de maneira muito simples, como um boletim vocacional que, nesses anos todos, tem difundido a figura de Santo Agostinho, sua espiritualidade e nossas obras e atividades. Seja também, você, um animador, uma animadora vocacional.
Nesse lema do ano vocacional, há um fundo agostiniano que quero destacar: “Corações ardentes, pés a caminho”.
Logo no início da Regra, Santo Agostinho usa uma expressão tirada dos Atos dos Apóstolos, dando-lhe um matiz especial: Cor unum et anima una in Deum. “Um só coração e uma só alma em caminho para Deus”. Este in Deum, um “acusativo de movimento”, indica não apenas uma orientação fundamental da vida, mas também o dinamismo da graça divina que atua sustentando a liberdade humana no caminho para a autêntica realização.
“Uma só alma e um só coração em caminho para Deus” é um dos lemas da Família Agostiniana. É de enorme atualidade, indo ao encontro da proposta da Igreja toda sinodal do Papa Francisco: uma Igreja que caminha junto com a humanidade. Também nós, agostinianos e agostinianas, queremos somar-nos aos companheiros e companheiras nas estradas da vida.
Santo Agostinho insiste no valor da vida em comum, como um “caminho de santidade comunitária”: a unidade de almas e corações em caminho para Deus é o grande distintivo do carisma agostiniano, um apelo profético num mundo cada vez mais individualista. A amizade fraterna ou a fraternidade amiga é outra nota distintiva de nosso carisma como um antídoto contra as divisões, guerras e conflitos que marcam nossos tempos. É dessa forma que também nos dispomos a servir a Igreja e a humanidade, onde quer que estejamos.
Portanto, corações ardentes, pés em caminho para Deus, com uma só alma e um só coração!
Frei Luiz Antônio Pinheiro, OSA
Prior Provincial
- Texto publicado na coluna Reflexão, do Jornal Inquietude On-line, de outubro de 2023.
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