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06
fev/22

Caminhando com os santos e heróis

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Escrever a própria história. Fazer da própria vida um conto que vale a pena contar, que vale a pena viver. Sempre fui provocado por esse ideal e sempre o vi refletido nos santos e heróis de todos os tempos. Por que, diante da condenação injusta, Sócrates não fugiu ou se retratou diante dos que o condenavam? Justo porque sua vida era a obra mais valiosa que ele havia composto e não podia renunciar a ela. O mesmo fogo que encorajou Sócrates esteve presente em Davi, jovem e pequeno, mas que, diante da grandeza e ferocidade de Golias, não se deixou amedrontar, e, assim, ainda que arriscando a própria vida, provou o seu valor e encontrou o seu lugar.

Um desejo semelhante moveu muitos homens e mulheres a buscarem em Jesus e seus ensinamentos o caminho de vida plena que responde aos anseios da existência. E o encontro pascal com o Ressuscitado levou esses corajosos corações a um processo de transformações. Paulatinos, progressivos, ganhando seu sabor tal qual o fruto verde, que no tempo vem a amadurecer, e imitando a Jesus, tornaram-se sinais de Deus no mundo. Mas vale ressaltar que Deus age no caminho, no processo. É no discernimento que o santo se aproxima de Deus, lapidando sua rotina, superando-se, vivendo a conversão enquanto vive a sua jornada.

Acredito que o processo de discernimento vocacional deve se inspirar em duas boas vontades dos santos e heróis. A primeira: a busca por uma vida nobre, boa, justa; fazer da vida algo que valha a pena ser vivido. Vida plena e cheia de significado, de sonho, de poesia. E, para lograrmos isso, é necessário assumirmos a nossa história e atuarmos ativamente, transformando em atitudes concretas os valores que aquecem nosso coração. Nossa experiência com o Verbo Divino deve se fazer carne na nossa rotina, e carne é concretude, é ação, é gesto, é postura, é decisão!

A segunda: entendermos que a conversão acontece na caminhada. A Revelação se dá enquanto buscamos. É no caminho que Deus vai nos preparando, lapidando, convertendo. O importante é termos o desejo de nos transformar e a abertura de coração para nos deixar modelar. Colocarmo-nos a caminho com o coração aberto, percebendo os sinais de Deus, discernindo através das muitas experiências que a Providência nos proporciona. E Ele, em sua sabedoria, vai nos capacitando a cada passo que damos nessa jornada.

Se pensarmos, por exemplo, em Santo Agostinho, ele sempre desejou encontrar a Verdade, para poder viver de Verdade. De início, acreditou que, se tivesse o poder para falar pela voz do Império Romano, saciaria sua sede por essa plenitude. Mas depois percebeu que, ao invés da suma Verdade, seus caminhos o haviam levado para o labirinto do orgulho e da vaidade. Então, ele ressignificou, converteu-se, iniciou uma nova jornada e se encontrou com Cristo Jesus, o Caminho, a Verdade e a Vida.

São Francisco, por sua vez, buscava ser um cavaleiro. Buscava nobreza para justificar a riqueza que seu pai lhe proporcionava. E, por acreditar nos valores honrados da cavalaria de sua juventude, dispôs-se a ir para a guerra. Mas, assim como São Paulo, “caiu do cavalo”, viu-se perdido e nu. E, nesse momento, iniciou seu caminho de retorno, de ressignificação, de conversão. Depois de muitas noites de angústia e dias de reflexão, percebeu que a nobreza que ele desejava encontrar nos títulos e ornamentos estava, na verdade, escondida na liberdade de nada ter e na dádiva de livremente poder amar.

Muitas vezes, nós, jovens, nos desconectamos dessa busca. Amedrontados por realidades tão duras e complexas nos acostumamos com vidas vazias e estagnamos. O Papa Francisco (grande herói e testemunha de nossos tempos), no livro “Deus é jovem”, nos recorda que a essência do jovem é o movimento, a busca, a transformação. Diz o Papa:“Vejo um rapaz ou uma garota que procura seu próprio caminho, que deseja voar com seus pés, que olha para o mundo e contempla o horizonte cheio de esperança (...) Falar sobre jovens significa falar sobre promessas, e isso significa falar de alegria. Os jovens têm tanta força... são capazes de olhar com esperança. Um jovem é uma promessa de vida.”[1]

O convite está posto, a jornada nos espera. Tudo que precisamos é dar o primeiro passo com coragem e deixar a estrada nos levar, nos converter. E aí, vamos construir nossa história?


[1] PAPA FRANCISCO. Deus é jovem: uma conversa com Thomas Leoncini. São Paulo: Planeta do Brasil, 2018, p. 20.

Frei Maksuel Gomes Costa, OSA

*Texto publicado na coluna PRO-VOCAÇÃO do Jornal Inquietude On-line, de fevereiro de 2022.

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