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fev/25

As promessas divinas jamais enganam

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Todos nós temos certeza da fidelidade de Deus. Esse é o princípio pelo qual construímos nossa crença e depositamos nossa esperança n’Ele. Deus é fiel e, por isso, temos a certeza de que, associados a Ele, sairemos vitoriosos diante de todas as batalhas da vida.

Essa realidade só é possível se entendermos que a fidelidade de Deus exige de nós a compreensão dos sinais divinos. E que, nas contradições da vida, devemos estar atentos para entender o que Deus pretende de cada um de nós.

Santo Agostinho alertava a seus fiéis sobre essa sutileza presente nas promessas de Deus para a humanidade. Ele deixa claro isso em seus sermões que buscam explicar dois eventos históricos importantes da nossa fé cristã: o sacrifício de Isaac e as Dez Pragas do Egito.

Abraão, pai do povo da Aliança, foi agraciado com o filho da promessa: Isaac. Esse é o resultado do encontro entre a promessa de Deus e a infertilidade humana. Para quem acredita nas promessas de Deus, nada é impossível. Contudo, o filho da promessa é objeto de desejo daquele que o prometeu. E Abraão não hesita em sacrificar a promessa que recebeu de Deus. Santo Agostinho tem uma explicação para essa decisão de Abraão.

“O que nos ensina então Abraão? Direi então em uma frase simples: não trocar Deus pelo que Deus dá. Entenda-se isso no sentido literal e antes de examinar as lições escondidas nesse mistério, nessa ordem intimada a Abraão, para degolar seu filho. Evite então trocar Deus até mesmo pelos maiores dons que ele concede a você. E, se ele quiser retirá-los, não deixe de honrá-lo, pois devemos amar Deus gratuitamente. Que recompensa mais doce pode nos vir de Deus, além do próprio Deus?” (Santo Agostinho in Sermão 2, 4)

De fato, Deus é muito maior do que os dons que nos concede. Não devemos amar a Deus porque ele nos favorece com nossos desejos. Mas, pela promessa de que, independentemente do que aconteça, não seremos desamparados. É por isso que Agostinho de Hipona acredita que os dons que recebemos são elementos dos quais podemos prescindir. A promessa de Deus é grandiosa e nos dará a certeza de que sempre teremos a vitória, ainda que não tenhamos os bens visíveis, e materiais, que apreciamos.

Outra postura daquele que vive a promessa de Deus é a perseverança. Isso vemos na narrativa das Dez Ppragas do Egito. As posturas do Faraó e de Moisés contrastam-se entre si. O primeiro acredita em seu próprio poder; o segundo, no poder de Deus. Este último não se desvela de maneira rápida e fácil. É necessário perseverança e aceitação de que a vida tem seu tempo e sua própria sorte. É o que Agostinho nos indica em sua reflexão sobre essa cena bíblica.

“Irmãos, ao percorrermos assim os dez preceitos e as dez pragas, comparando os infratores dos mandamentos aos egípcios teimosos, o que fizemos? Quisemos determinar a vocês a estabelecerem suas sortes sobre princípios divinos; sorte que vocês devem conservar no interior, em seus tesouros secretos; sorte que não podem tirar de vocês o ladrão, o assaltante e nem o vizinho; sorte que não tem que temer a traça e nem a ferrugem e que a pessoa rica leva com ela, como aquele que morre em um naufrágio. Dessa forma, vocês serão como o povo de Deus no meio dos egípcios ímpios. Estes sofrerão interiormente as dez pragas e vocês ficarão livres delas no interior, até que seu povo deixe a terra de cativeiro.” (Santo Agostinho in Sermão 8, 12)

Para Agostinho, as “pragas” corroem os homens que não são capazes de encontrar, no cumprimento dos mandamentos de Deus, a sua liberdade interior. A promessa se realiza na obediência ao que Deus propõe para nossa vida. Sem ela, instala-se a dúvida e a falta de sensibilidade pelas necessidades humanas. A promessa de Deus exige de nós uma fidelidade à voz de Deus que se faz ouvir em todos os cantos e que urge ser colocada em prática. Esse foi o grande erro dos egípcios: não ouvirem a voz de Deus e se colocarem como obstáculo para que as promessas de Deus se cumprissem na vida do povo hebreu. A morte, em suas diversas manifestações, é o resultado para aqueles que tentam impedir que as promessas de Deus aconteçam no meio da humanidade.

Enfim, a promessa é algo muito maior do que obter bens materiais ou desejos realizados. É nos propormos a viver um ideal de vida que passa pela adesão cotidiana à vontade de Deus e à realização de seus preceitos na humanidade. A confiança nessas promessas realiza em nós as maravilhas que sempre buscamos ao longo da nossa caminhada pelo mundo. Enfim, é preciso ter claro, dentro de cada um de nós, esta certeza: “As promessas do mundo são sempre enganosas, enquanto que as promessas divinas jamais enganam”. (Santo Agostinho in Sermão 157, 1).

Frei Arthur Vianna Ferreira, OSA

Artigo publicado na coluna Fala Agostinho, do Jornal Inquietude On-line, edição de fevereiro de 2025.
Imagem: Freepik

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