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05
set/23

Amar a criação é amar o próprio Deus

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A vida é feita de encontros. E, no decorrer da nossa caminhada, vamos descobrindo que as relações sociais são fundamentais para que possamos nos desenvolver como seres humanos. Quando nascemos, somos introduzidos no seio das relações familiares. Através delas, vamos nos formando como pessoas dentro de uma cultura específica. Da mesma forma, vamos aprendendo valores e hábitos específicos que movimentam as escolhas das nossas vidas.

Para nós, cristãos católicos, esses valores são organizados partindo do pressuposto de que Deus realizou, através da criação, uma harmonia que deve ser trabalhada nas relações estabelecidas entre os seres humanos e toda a natureza. A partir desse ecossistema, resplandecemos o amor de Deus e o desejo de cuidado que ele tem por cada uma de suas criaturas.

Agostinho já tem uma intuição específica com respeito a essa relação intrínseca entre a natureza criada e a vontade de Deus, desde suas Confissões 10, 26, ele nos relata a seguinte experiência em seu autoconhecimento: “Quando questionei a terra, ela respondeu: ‘Eu não sou Deus’. Perguntei aos céus, ao sol, à lua, às estrelas, todos disseram: ‘Nenhum de nós é o Deus que você procura’. Então eu disse: ‘Fale-me de Deus’. Com veemência exclamara: ‘Foi Ele quem nos fez’. Então, os céus, a terra e tudo o que há neles, todas as coisas, disseram-me para amá-lo.”

De fato, a inquietude de Agostinho de Hipona era uma busca constante por encontrar Deus. Contudo, ele percebe que isso somente dar-se-á à medida que ele se abrir à realidade concreta que existe ao seu redor. E isso envolve diretamente as relações interpessoais. Nesse caminho, a construção de relações mais próximas se transforma em um grande desafio para todos nós. “Os que amam a Deus não podem desprezá-lo quando Ele ordena que amemos ao próximo. E aqueles que dedicam ao próximo um amor espiritual e sagrado amam a Deus. Então, amemos uns aos outros. Convençamos os outros a se amarem, amando a Deus. Dessa forma, estaremos fortemente unidos e seremos o corpo do qual Deus é a cabeça.” (Santo Agostinho in Sermão de São João 65,2)

A relação estabelecida com os “outros” da criação passa pelo exercício do amor, uma vez que amar aquilo que foi criado passa a ser o mesmo que amar o Criador. E esse processo é algo a ser construído constantemente. Deve ser uma adesão pessoal a esse valor. O amor é um valor aprendido do próprio Deus a partir da intervenção de Deus na história da humanidade. E esta se encontra na figura de Jesus Cristo.

“Quando os cristãos recebem Cristo, servem-se uns aos outros e Cristo rejubila-se e considera dEle o que a seus membros pertence. Em nossa jornada, devemos representar Cristo onde e quando for preciso.” (Santo Agostinho in Sermão 236,3)

Assim, sabemos por onde começar a nossa atividade baseada no amor de Deus e pela sua criação. O exemplo deixado por Cristo é o princípio para qualquer ação do ser humano. O serviço de Jesus Cristo foi endereçado a seres humanos específicos: aqueles que se encontram à margem da sociedade e que buscam a justiça social acontecer em suas vidas.

Amar a criação é amar o próprio Deus. Isso se expressa nas relações interpessoais que estabelecemos entre cada um de nós e com todo o ecossistema criado por Deus. Devemos assumir essa tarefa como um desafio. Ou melhor dizendo, um exercício contínuo que nos aproxima da divindade e nos ajuda em nosso desenvolvimento pessoal, social e, por que não dizer, ecológico, dentro da nossa experiência como parte de toda a criação de Deus.

Frei Arthur Vianna Ferreira, OSA

- Artigo publicado na coluna Fala Agostinho, do Jornal Inquietude On-line, edição de agosto de 2023.

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