O ser humano está sempre em busca. Essa inquietude humana é um dos traços mais importantes da sua ação no mundo. Mesmo assim, quando suas ações não são bem-intencionadas, essa inquietude se apresenta vazia diante da possibilidade de crescimento que ela pode promover no tecido social. É por isso que um dos valores se torna relevante na nossa caminhada como cristãos: a humildade.
Na verdade, para Santo Agostinho, a humildade é uma das virtudes principais para que o homem possa reconhecer os seus limites e as suas fraquezas. Pois, somente assim, ele poderá se projetar para coisas maiores – e melhores – previstas como vontade de Deus em sua vida.
“Observe a árvore. Para crescer para cima, cresce primeiro para baixo. Coloque, primeiro, suas raízes no solo, para, depois, lançar suas ramas para o céu.” (Sermão de Santo Agostinho 117, 17)
Em todas as nossas atitudes no mundo, devemos ter claras as raízes que plantamos e que nos darão a base necessária para sustentarmos as nossas decisões. Faz-se importante trazermos a certeza de que não somos seres acabados e que a perfeição não é um projeto a ser construído por nós mesmos. A perfeição encontra seu fim em Deus e não nos homens. Assim, enquanto estamos em caminhada pelo mundo, reconheçamos os nossos erros e depositemos a nossa segurança na presença de Deus. “Aceita a sua imperfeição. Esse é o primeiro passo para alcançar a perfeição.” (Sermão de Santo Agostinho 142, 10)
O reconhecimento das nossas limitações não nos diminui como criação divina. Ao contrário, faz-nos reconhecer o quanto somos necessitados da presença de Deus e como Ele pode se transformar em presença viva no mundo através dos nossos gestos e das nossas palavras. O esforço que realizamos em justificar os nossos erros apenas nos afasta do ideal, que é viver a graça de Deus que, constantemente, pede de cada um de nós um processo de conversão e de mudança de vida. Pois, como diz Santo Agostinho, “Não existe enfermo mais incurável do que aquele que não reconhece sua própria enfermidade”. (Comentário de Santo Agostinho ao Salmo 8, 5)
Aceitar-se humano é sinal de humildade. Santo Agostinho, mais que qualquer outra pessoa na história, viveu tão realisticamente essa premissa. O seu processo de conversão e sua dedicação aos trabalhos da igreja fizeram dele cada vez mais humilde diante da história da humanidade e de si mesmo. Essa pode ser a chave de pensamento para cada um de nós, para construirmos mais justiça, fraternidade – e humildade – ao longo da nossa caminhada.
Frei Arthur Vianna Ferreira, OSA
freiarthur@ymail.com
- Artigo publicado na coluna Fala Agostinho, do Jornal Inquietude On-line, edição de janeiro de 2023.
Título: Aceita-te como homem. Isso é humildade - Santo Agostinho no Comentário a São João 25, 16
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