Ao iniciarmos um novo ciclo de vida, marcado pelo calendário solar, deparamo-nos com as questões cotidianas que nos levam a buscar sentido para nossa existência. Os trabalhos seguem seus ritmos imperiosos e, entre as ações corriqueiras da vida, buscamos pequenos milagres que tragam novidades e nos ajudem a ressignificar a nossa caminhada como cristãos.
De fato, com o final da liturgia do Natal do Senhor Jesus, podemos respirar um pouco de esperança para continuarmos nosso percurso pelo mundo. Na manifestação de Jesus aos Reis Magos, celebramos a presença de um Deus que se oferece como presente à humanidade. Ele traz a esperança necessária para acreditarmos que as coisas podem ser diferentes e que o impossível pode acontecer em nossas vidas.
Santo Agostinho nos lembra, na festa da Epifania do Senhor, de nossa postura como adoradores de Cristo encarnado no gênero humano. “Rejubilemo-nos com a visão da estrela que projetou, sobre toda a Terra, o vivo esplendor dos seus raios. Rejubilemo-nos também com os presentes dos Magos, que simbolizam a Trindade e as três virtudes representadas por esses presentes. Rejubilemo-nos no próprio menino, que se fez o Cristo entre nós.” (Sermão de Santo Agostinho 516,7) Ao terminarmos o ciclo do Natal, devemos ser motivados pela esperança. A estrela é o sinal de que recebemos a vida plena em Cristo Jesus como um dom. E, por isso, devemos viver como pessoas orientadas pelo próprio Senhor ao longo dos grandes acontecimentos de nossa caminhada pelo mundo.
Essa realidade é corroborada por outra festa desse período que celebramos anualmente: o Batismo do Senhor. Nela, temos a certeza de que renascemos para uma nova vida em Cristo Jesus. O batismo nos leva à esperança de que, mesmo com uma natureza corruptível, alcançamos a graça da salvação. “Por mais numerosas que sejam as feridas feitas em seus corações pelo pecado, por mais horríveis que sejam as manchas impressas em suas almas pelas suas faltas, nós as cicatrizaremos, nós as faremos desaparecer com a água viva do batismo. Suas consciências serão purificadas de todas as suas antigas iniquidades e uma luz espiritual será espalhada em vocês.” (Sermão de Santo Agostinho 525, 5)
Assim sendo, o sentimento de alegria pela nossa salvação prevalece sobre a culpa provocada pelos nossos pecados. Ter a consciência de que somos seres limitados, e consequentemente pecadores, não deve nos paralisar, pois temos a certeza de que Deus pode – e quer – nos perdoar constantemente. Por isso, voltar para Ele com o coração arrependido, dispostos a reparar nossos erros, é a plena realização do batismo que carregamos em cada um de nós.
Jesus Cristo é a prova viva do impossível entre nós. Ele manifesta o profundo desejo de Deus em salvar a humanidade. Com sua encarnação, Ele se torna presente na história de todos os povos que acreditam n'Ele, simbolizados pelas figuras dos Reis Magos. Através do relato evangélico sobre o seu próprio batismo, Ele nos assegura a redenção para todos que se comprometem a viver segundo sua Palavra e a buscar constantemente corrigir seus erros diários.
Como nos aponta Santo Agostinho: “O poder que Ele manifestou no momento do seu nascimento deveria induzir as pessoas a acreditarem mais facilmente nas ações extraordinárias e maravilhosas de que o resto de sua vida estaria repleto”. (Sermão de Santo Agostinho 523, 1) A manifestação do impossível no meio de nós, através do nascimento de Jesus, nos faz acreditar em Seu poder e na certeza de que Ele pode realizar coisas transformadoras. Isso se torna na alegria e nas disposições necessárias para construirmos um ano cada vez mais cheio de esperança, de paz e de realizações positivas para toda a humanidade.
Frei Arthur Vianna Ferreira, OSA
Artigo publicado na coluna Fala Agostinho, do Jornal Inquietude On-line, edição de janeiro de 2025.
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