Fale com o animador vocacional

Artigos

18
dez/21

A intenção nos move a agir sobre o mundo

Imagem
Imagem

Estamos fechando um ciclo, tão natural quanto socialmente consensual, que chamamos fim de ano. Ao chegarmos a esse período de nossas vidas nos detemos a pensar sobre as obras que conseguimos realizar ao longo de um tempo que se finda. É mister saber que, independentemente do que conseguimos realizar, as nossas reflexões devem estar pautadas nas intenções que subsidiaram os nossos trabalhos ao longo dessa caminhada. A intencionalidade move as nossas práticas. E, geralmente, as obras tendem a representar concretamente as nossas escolhas no mundo.

Agostinho de Hipona tem claro em sua reflexão que as obras do cristão devem ter uma certa intenção: exercer a caridade ao próximo como projeto de salvação no mundo. Na sua carta (93, 6), Agostinho recorda que as ações do homem no mundo se diferem pela sua intencionalidade. Para esse filósofo, “o que se trata é saber quem agiu por causa da verdade, quem foi injusto, quem teve a intenção de destruir e quem teve o desejo de corrigir.” Ou seja, a intenção posta pelo sujeito da ação é a reguladora da obra e promove a reflexão sobre de que forma a ação do homem foi transformadora, ou não, da realidade do mundo.

Assim sendo, o parâmetro para responder aos questionamentos (como esses propostos acima) não se encontra no próprio homem, mas sim em Deus. É através da compreensão da vontade de Deus, expressa na Sagrada Escritura e na intimidade da oração com Deus, que o exercício do amor ao próximo descortina critérios para descobrirmos se as nossas intenções são realmente retas e atendem às necessidades da realidade humana. Nessa ação encontramos o convite do próprio Agostinho: “Entra em tua consciência e examina com cuidado as coisas que fazes, e veja se os frutos dessa ação têm suas raízes na caridade ao próximo” (Comentário à Carta de São João 6, 2).

De fato, o homem deve alimentar em si mesmo a caridade como um elemento importante para a motivação interna que modula as suas ações no mundo. A partir da caridade com o próximo, Deus se manifesta no mundo e se encarna em ações concretas de vida, de forma plena e fraterna ao longo da vida em comum. “Não se conforme, pois, somente com o que fazes, ao contrário, atenda ao espírito e à intenção que te move agir sobre o mundo” (Sermão de Santo Agostinho 2, 13). As obras devem resplandecer esse movimento constante, e reflexivo, sobre as coisas que realizamos no mundo, e como elas atingem a sua plenitude nas relações humanas.

Enfim, assim como o apóstolo Tiago já admoestava sobre a importância de estarmos atentos à relação entre a fé e as obras entre os primeiros cristãos, Agostinho também propõe essa mesma reflexão, porém desde um outro lugar. As obras, para que cumpram o seu sentido de transformação no mundo, precisam ser revistas a partir da intencionalidade posta em cada uma delas. Da mesma forma, o critério dessa reflexão passa a ser a caridade que, organizada em cada um de nós, perpetua a presença de Deus no mundo a partir das consequências da realização das nossas obras. Quiçá, essa deva ser a mensagem mais importante ao final de cada ano. Um menino veio ao mundo e, no evento do seu natal, repousa a maior intenção de Deus deixada na história da humanidade: aproximar-se dos homens e instaurar a consciência de que é possível um mundo melhor a partir das obras de cada uma de suas criaturas. Que a gente saiba compreender esse recado.

Frei Arthur Vianna Ferreira, OSA
freiarthur@ymail.com

*Artigo publicado na coluna Fala Agostinho, do Jornal Inquietude on-line, de dezembro de 2021.

+ Mapa do Site

Política de Privacidade
Cúria Provincial Agostiniana Rua Mato Grosso, 936, Santo Agostinho Belo Horizonte - MG, 30190-085 +55 (31) 2125-6879 comunicacao@agostinianos.org.br

Fique por dentro de tudo o que acontece na Província. Cadastre seu e-mail para receber nossa Newsletter.