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21
mar/22

O caminho do discernimento vocacional à luz da espiritualidade agostiniana

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Tomar decisões faz parte do dia a dia de qualquer pessoa, no entanto, as consequências que essas podem gerar dependem muito da resposta que damos. É certo que se agimos de maneira precipitada podemos correr o risco de não ter muito sucesso, mas se fazemos um bom discernimento temos maior probabilidade de ser certeiros em nossas decisões. Por isso, discernir é uma atividade que exige tempo. Para dar um passo adiante em uma caminhada vocacional, por exemplo, é necessário coragem, entusiasmo e identificação da própria pessoa com determinada proposta de vida. Mas como saber se o caminho a ser trilhado é o que se tem em mente?

Para responder a essa questão, o caminho de discernimento proposto pela espiritualidade agostiniana apresenta o pilar da interioridade. Trata-se de uma ferramenta essencial, visto que nos permitir realizar uma viagem ao próprio interior pode nos levar a conhecer defeitos, qualidades, habilidades, traços que até então não eram de nosso próprio conhecimento. Aquele que busca se conhecer poderá ter respostas mais acertadas, pois saberá o que incluir em seu projeto de vida e o que é bom ou não para si.

Existem decisões que mais ninguém além de nós mesmos pode tomar. Nossas respostas podem definir um elemento essencial para a vida, a felicidade. Estar realizado vocacionalmente é um dos fatores dos quais dependem nossa felicidade. Mas também inúmeros dilemas podem fazer parte da vida de uma mesma pessoa, por exemplo: realizar curso “A” ou curso “B”, permanecer ou não na mesma cidade, iniciar ou não um relacionamento, trabalhar a partir de um projeto ou de outro... Essas questões e muitas outras são frequentes ainda em nossa juventude, fase da vida marcada por escolhas e buscas pela concretização de sonhos.

É certo que voltar-se para dentro de nós mesmos a fim de encontrar respostas pode não ser uma tarefa fácil, principalmente pelo fato de estarmos dentro da dinâmica de um mundo que frequentemente nos faz o convite para o exterior. Assim escreve Agostinho: “Os homens vão admirar os cumes das montanhas, as ondas do mar, as largas correntes dos rios, o oceano, o movimento dos astros, e deixam de lado a si mesmos” (Confissões X, 8, 15). Ele fala a partir de sua experiência de vida, visto que descobrir esse caminho lhe permitiu tomar decisões cruciais, tais como: converter-se ao cristianismo, receber o batismo, fundar comunidades... Saindo do exterior, Agostinho chega ao próprio interior, transcende e alcança a Deus.

O jovem Agostinho, inquieto de coração, tornou-se mestre de interioridade. Assim podemos encontrar em um de seus escritos: ''Não saias fora de ti, volta-te a ti mesmo; a verdade habita no homem interior” (A verdadeira religião, 72). Como ele, também nós buscamos a verdade, a felicidade e a realização pessoal no caminho vocacional. Para tanto, é necessário um olhar para dentro. Isso inclui um olhar para a própria realidade e história pessoal, as trajetórias feitas até então e para o caminho a que elas confluem, responder por si e arcar com todas as consequências das decisões tomadas, sejam elas boas ou não. É verdade que toda vocação deve estar a serviço dos outros e promover a vida, pois ela não pode ser uma simples autorrealização egoísta. Para isso é preciso ter feito boas escolhas e se ver feliz nelas. Ou seja, fazer os outros felizes depende, antes de tudo, de ter encontrado a felicidade para si.

O discernimento vocacional, à luz da espiritualidade agostiniana, é, portanto, um processo que exige disposição para fazer uma viagem ao próprio interior a fim de conhecer aquilo que está no mais profundo do ser de cada um. Em resumo, é ouvir a voz do coração. Trata-se de um movimento necessário para um seguimento sincero, verdadeiro e que visa ao bem e à felicidade.  Somente aquele que se abre para a escuta da Palavra se coloca a caminho e deixa o coração arder, assim como em Emaús (cf. Lc 24:32), dar-se-á conta da presença de Deus em cada momento de sua vida e para onde Ele o pretende encaminhar.

Frei José Flávio Cassiano dos Santos, OSA

*Texto publicado na coluna PRO-VOCAÇÃO do Jornal Inquietude On-line, de março de 2022.

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