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mar/22

Quaresma: tempo de oração, penitência e conversão

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A Quaresma por excelência nos prepara para celebrarmos dignamente o mistério Pascal de Nosso Senhor Jesus Cristo.  A paixão, morte e ressurreição do Senhor nos abrem a uma nova realidade, onde imbuídos pela força do Espírito Santo tomamos a sábia decisão de abandonar o homem velho para nos revestirmos do homem novo (cf. Ef 4, 22-24). Nesses quarenta dias somos convidados a uma conversão sincera, a olharmos para dentro de nós mesmos e percebermos o que causa em nós todo tipo de maldade, pecado e morte. A Quaresma é verdadeiramente um caminho repleto de exigências que tendem a formar uma consciência cristã baseada principalmente na disciplina para com as coisas de Deus. É importante ressaltar que cada cristão precisa ver esse tempo forte na Igreja como talvez sendo a última oportunidade para se transformar verdadeiramente. Temos a nosso alcance uma riqueza primordial, nos ajudando a rezar, refletir e converter o coração e a própria vida. A liturgia sóbria, a sagrada escritura, o jejum e a esmola, dentre outras práticas, formam por assim dizer um perfeito incentivo para uma vida cristã madura, sólida autêntica e fecunda. A Igreja como Mãe participa da educação e da formação de seus filhos, concedendo aos mesmos sinais que os levem a desejar cada vez mais adentrar o mistério da salvação.

Estamos enfrentando uma realidade complexa, que por si só assusta, angustia, amedronta e por isso mesmo exige que cada um de nós possa rasgar o coração com sinceridade a fim de se fortalecer, amadurecer a fé para viver com veemência estes tempos sombrios. É de suma importância salientar que é no sacrifício ou no calvário que a conversão acontece. Se olharmos bem ao nosso redor, podemos perceber que as dificuldades do caminho são uma verdadeira escola de superação e aprendizado acerca da essência do ser humano, que criado à imagem e semelhança de Deus é convidado a refazer-se cotidianamente. Uma vida tranquila e prospera não nos ensina absolutamente nada, ao contrário, esta nos leva a viver sempre a acomodação e nos impede de alçar voos para onde realmente importa.

A conversão significa mudança de caminho, por isso o sentimento de recomeço deve permear todo o nosso ser. Muitos de nós, vivendo os dilemas desta vida, vamos nos desgastando, deixando escapar do coração a nossa essência que nos revela que  somos de Deus e que precisamos buscá-lo com toda intensidade onde quer que estejamos. Quantas vezes margeamos a graça de Deus, mas não somos capazes de avançar, de adentrar, de mergulhar nesta misericórdia insondável do Senhor? É necessário beber novamente da fonte perene e recordar que durante toda a nossa existência somos acompanhados pela presença paternal de Deus que distribui para cada um de nós sua misericórdia benfazeja. Tempos difíceis preparam pessoas, transformam vidas e mudam destinos, por isso façamos do nosso calvário diário uma oportunidade de irmos além, de sairmos de uma espiritualidade medíocre, vazia e passar a uma espiritualidade verdadeira, centrada em Jesus Cristo. O homem de Nazaré nos convida: “venham a mim, todos vocês que andam cansados e curvados pelo peso do fardo, e eu lhes darei descanso” Mt 11, 28. Este convite é estendido a todos que de uma maneira ou outra não desejam ser mais os mesmos, mas sim desejam viver a santidade, o amor, a benevolência e a prática da justiça, descansando no Senhor aquilo que mais lhe pesa e incomoda.

Quem é você diante de Deus? Quais são suas atitudes?  E se você dependesse delas para se salvar, estaria tranquilo ou desesperado? Todas essas questões nos ajudam a entender que não estamos prontos, assim somos seres em construção. O acúmulo de mazelas dentro de nós nos impede de vivermos o novo de Deus. Ele em sua misericórdia tem preparado para cada um de nós o que há de melhor, fruto do seu amor paternal, por isso nosso esforço será agraciado quando estivermos livres para viver um outro patamar que nos é oferecido pelo nosso Pai celestial. O programa de vida instaurado por Jesus se realiza quando cada pessoa se coloca disponível para viver o processo de transformação pessoal e consequentemente comunitária. Dessa forma, cada um se renova na presença de Jesus e com Ele se torna também um instrumento de renovação na vida de todos aqueles que os rodeiam. Conversão é mudança do coração, da própria vida e da realidade em que cada um está inserido.

A Quaresma nos oportuniza a voltarmos à essência da vida de oração e nela fazer um diálogo profundo com Deus que sempre está à nossa espera. Essa certeza é imprescindível ao coração: Deus está nos aguardando para nos acolher novamente, nos perdoar e redirecionar nossa vida. Isso recorda a Parábola do Filho Pródigo (cf Lc 15, 11-32), estamos tratando de um Pai que assume de fato essa tarefa, essa vocação de zelar pela vida do seu filho até as últimas consequências, ultrapassando todas as barreiras para enfim celebrar o início de uma nova realidade. Deus é paciente para conosco, assim devemos também fazer a nossa parte e nos permitir dar passos mais concretos na direção Dele. O abraço do Pai nos revela o céu, a santidade partilhada por Jesus, oferecida aos recôncavos da nossa pobre alma.

Somos frágeis, por isso o tempo da quaresma se inicia na quarta-feira de cinzas, nos recorda que somos pó e ao pó voltaremos (cf Gn 3,19). As ilusões e fantasias desse mundo tendem a nos enganar mostrando inúmeras vezes que somos absolutos, que não precisamos nem de Deus e nem do próximo para vivermos bem. Tudo isso não passa de uma armadilha que está preparada para nos tirar do essencial. Somos pequenos e não podemos escapar dessa realidade. São Paulo na segunda epístola aos Coríntios nos lembra que quando somos fracos é então que somos fortes (cf. 2 cor 12, 10) e assim somos por causa de Cristo, Ele é a nossa força, nosso alento e a razão dos nossos dias sobre essa terra em busca do céu. Devemos colocar na cruz do Senhor todas as nossas fadigas e privações para que com Ele possamos vencê-las com a audácia daqueles que sabem em quem depositam toda a sua confiança (cf 2 Tm 1,12).

Assim queridos irmãos e irmãs foquemos, portanto, no essencial, numa oração bem-feita, numa penitência bem vivenciada, para que a conversão seja a concretude de um caminho que nos chama sempre a recomeçar quantas vezes for necessário. Encerro essa simples reflexão com uma pequena oração e peço que você a faça também.

Senhor Jesus, a tua misericórdia é capaz de alcançar os corações mais endurecidos, por isso eu clamo a Vós que me socorra e me sustente nesse tempo quaresmal. Que os meus olhos estejam fixos em Ti, que os meus ouvidos possam ouvir sua voz, que a minha boca proclame as suas maravilhas e que o meu coração esteja totalmente em vossas mãos. Que ao terminar esse período de oração e penitência, eu possa ter alcançado uma sincera conversão e possa celebrar com dignidade e alegria a Páscoa, deixando para trás tudo que me impede de viver aquilo que o Senhor preparou para mim. Assim seja. Amém.

Frei Danilo Gomes de Almeida, OSA

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Referência Bibliográfica:

Nova Bíblia Pastoral, São Paulo, 2014, Ed. Paulus.

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