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16
jan/22

Voltar para si, para atuar sobre o mundo

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Iniciamos mais uma jornada em nossa vida com o novo ano. É verdade, a vida não para. E, com ela, somos impulsionados a doar para o mundo o que há de melhor em cada um de nós. A questão que se coloca nesse processo é que, diferente do que podemos imaginar, a caminhada começa dentro de cada ser humano. Somos constantemente chamados a pensar sobre os nossos desejos e como nos organizamos para colocá-los em prática em nossa vida cotidiana.

Agostinho de Hipona enfrentou com galhardia esse processo. Na sua mudança de vida, descobriu que no interior de si mesmo – e no encontro com os seus desejos pessoais – Deus habitava e, continuamente, dava sentido a sua vida. Como ele mesmo propõe “O homem deve reencontrar primeiro sua identidade para que, fazendo de si mesmo um trampolim, possa saltar e elevar-se a Deus.” (Santo Agostinho in Retratações 1, 8.3). Ou seja, saber quem somos e o que queremos da nossa vida passa a ser um dos primeiros passos da nossa caminhada.

O seguinte passo é decorrente do primeiro: o questionamento sobre nós mesmos, sobre nossas funções sociais e as realidades que queremos viver nos impulsiona para uma vida de encontros. E esses encontros se materializam nas realidades externas aos homens, passando a ser um dos principais motivos para a contínua reflexão interior proposta por Agostinho. Viver de dentro para fora; sendo que “estar fora” significa entrar em contato com a humanidade e sua realidade social. “Volta-te para ti mesmo, mas não fiques aí. Volta a ti mesmo pelo desapego das coisas externas, para em seguida devolver-te ao que te fez.” (Santo Agostinho in Sermão 330, 3)

A virtude da interioridade não se encontra na contemplação em si mesma, mas na capacidade que temos de transformar em vida plena os fatos históricos da humanidade. É por isso que cultivar uma vida interior coincide com a promoção dos afetos necessários a uma organização social mais justa e fraterna. Essas são atitudes necessárias para a vivência da paz entre os nossos irmãos no mundo contemporâneo.

Assim sendo, podemos inferir que voltar para si mesmo refletindo sobre as possibilidades de existir no mundo não deve levar o homem a uma interioridade fechada em si mesma. Ao contrário, voltar para si é voltar-se para o mundo na medida em que compromete o homem consigo mesmo e com a sua própria vida. Como nos recorda Santo Agostinho, no Sermão 34, 7, “Deus, que te criou, não quer nada de ti fora de ti mesmo.” Ou seja, dentro de nós temos o necessário para operar sobre as coisas que incidem sobre a nossa própria realidade, uma vez que reconhecemos que dentro de nós habita o próprio Deus.

Este deve ser o esforço que cada um de nós deve realizar neste reinício de caminhada: voltarmos para dentro de nós mesmos, buscando entender quem somos, encontrando-nos com Deus e nos fortalecendo para atuar sobre o mundo. Que Deus nos acompanhe nessa empreitada de crescimento pessoal.

Frei Arthur Vianna Ferreira, OSA
freiarthur@ymail.com

*Artigo publicado na coluna Fala Agostinho, do Jornal Inquietude on-line, de janeiro de 2022.

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