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30
jul/21

Pão para quem tem fome

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A fome não é uma realidade estranha a todos nós. Embora não seja um drama experienciado por toda gente, hoje, ela incide em aproximadamente 19,1 milhões de brasileiros. Sem mencionar os 116,8 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar, isto é, gente que não tem acesso pleno e permanente a alimentos.

Tais dados justificam as publicações recorrentes nos jornais sobre casos de fome generalizada em todo o território nacional. Algo que parecia há até pouco tempo superado retorna com força corrosiva. E, antes que se possa supor que essa realidade seja oriunda de uma tragédia natural ou, ainda, como decorrência da Covid-19, gostaríamos de atentar às análises de dois notáveis brasileiros que pensam diferente, mesmo tendo vivido em outro tempo, há muito o que podemos aprender destes doutos concidadãos; são eles: Josué de Castro e Celso Furtado.

Josué de Castro, já no prefácio de um de seus livros, “Homens e Caranguejos”, deixa claro que “a fome é, conforme tantas vezes tenho afirmado, a expressão biológica de males sociológicos. Está intimamente ligada com distorções econômicas, a que dei, antes de ninguém, a designação de ‘subdesenvolvimento’”. Tanto Josué de Castro quanto Celso Furtado entendiam que a fome é uma realidade oriunda da nossa organização social e econômica.

Celso Furtado, figura de destaque no campo intelectual desenvolvimentista, e membro da primeira geração da Comissão de Estudos para a América Latina (CEPAL), entende que o subdesenvolvimento não é uma etapa a ser cumprida e superada para se alcançar o mesmo estágio dos países desenvolvidos. Mas, antes, esse atraso é uma condição estrutural. Isto é, os países subdesenvolvidos o são em função dos desenvolvidos. Portanto, nossa situação retardatária é um resultado de um arranjo onde os países do “Terceiro Mundo” foram postos dentro de um sistema econômico mundial.

Num estudo feito pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN), constatou-se que eram 10,3 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar grave em 2018, passando para 19,1 milhões em 2020. Portanto, nesse período, foram cerca de nove milhões de brasileiros(as) a mais que passaram a ter, no seu cotidiano, a experiência da fome. Esses resultados mostram que em 2020 o patamar de insegurança alimentar regrediu aos níveis de 2004. É preciso atentar ao fato de que essa realidade não é exclusiva de 2018 até nossos dias. Uma vez que a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada em 2004, 2009 e 2013, revelou uma importante redução da insegurança alimentar no país. Haja vista que, em 2013, a parcela da população em situação de fome havia caído para 4,2%, o nível mais baixo até então.

 Esses dados nos mostram que, conforme apontavam Josué de Castro e Celso Furtado, a fome está mais diretamente relacionada à realidade econômica e social de nosso país. Onde a insuficiência de renda, associada à precarização das relações de trabalho e ao aumento do desemprego; a degradação das condições de moradia e de infraestrutura sanitária, entre outros, intensificadas pela disseminação da pandemia nos grupos populacionais mais vulnerabilizados, resultaram num retorno aterrador da fome.

Frei Paulo Henrique Cintra, OSA
Comissão de Justiça e Paz
* Publicação: coluna Pé no Chão do Jornal Inquietude On-line, de agosto de 2021

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