Fale com o animador vocacional

Artigos

24
jun/21

A vida reflexiva no século das respostas

Imagem
Imagem

O doloroso encontro com a Filosofia nasce de um desconforto ou, como já dizia Sócrates, nasce de um espanto. A dor filosófica surge justamente no processo de espanto diante de tanta ortodoxia mal fundamentada. São muitos pensamentos tidos como verdadeiros que precisam ser melhor analisados. São muitas vertentes que pregam autoritariamente uma certeza baseada em diversas incertezas. É desse desconforto com uma realidade impositiva, sem fundamento e, por vezes, mesquinha que nasce o ser reflexivo.  

Os benefícios desse pensamento reflexivo consequentemente acometem os homens.  Dentre eles, podemos citar o senso crítico apurado, a expansão do intelecto, a fuga da ortodoxia insustentável e do legalismo. O raciocínio se torna mais modesto e cauteloso. Para as almas mais vorazes por conhecimento, a filosofia, que por vezes se apresenta destrutivamente angustiante, pode proporcionar tranquilidade e paz. A verdade contraditória se expressa no fato de que quanto mais se estuda, pensa e reflexiona, mais se percebe que não sabemos de nada. Quanto mais conhecimento se adquire, mais se percebe a necessidade de continuar procurando mais. O que se sabe é uma gota diante de um oceano de possibilidades. A paz surge exatamente em meio a essa maré agitada, pois para quem nada sabe, todo passo dado é um motivo de tranquilidade. Tranquilidade essa que não gera comodismo, mas, incômodo.

Em seus ensaios sobre a alteridade, Lévinas afirma que "quando filosofia e vida se confundem, não se sabe mais se alguém se debruça sobre a filosofia, porque ela é vida, ou se preza a vida, porque ela é filosofia.” (LÉVINAS, 1991, p. 23) A filosofia existe na vida do indivíduo de forma integral.  Ela não é fruto de momentos tediosos de uma pessoa trancafiada dentro de um quarto escuro, rodeado de livros e folhas escritas. A atitude reflexiva age como uns óculos que nos permitem ver a realidade de uma forma diferente do convencional. Entretanto, não se afirma que os estudantes de filosofia vivem somente com a cabeça nas suas reflexões. Mas também não se afirmo que exista uma suspensão de juízo nos momentos descontraídos da vida. É como se a vida fosse realmente se mesclando com a Filosofia. Por isso estava certo Lévinas. Não existe o “ser” sem todas as coisas que o rodeiam. Não existe o “ser” sem a interação com o mundo.

É latente a necessidade desse pensamento reflexivo nos dias atuais quando nos deparamos com tantas coisas que são aceitas tão naturalmente por algumas pessoas. Um bom exemplo seria a nova atualização do WhatsApp que permite acelerar as mensagens de voz. Qual o impacto disso em uma sociedade tão ansiosa? Como isso pode intensificar a liquidez das relações? Como isso pode acarretar consequências negativas na vida das juventudes?  Esses e muitos outros questionamentos poderiam nos tornar pessoas mais cautelosas e prudentes diante de tantas realidades e temas da atualidade, afinal mais valem as perguntas bem feitas que as respostas mal dadas.

Johnata Alves Fonseca de Carvalho
Formando Agostiniano da Província Nossa Senhora da Consolação do Brasil, bacharelando em Filosofia pelo Instituto Santo Tomás de Aquino - ISTA.

_________
Referências Bibliográficas:
LEVINAS, Emmanuel. Entre nós: ensaios sobre a alteridade. Petrópolis: Vozes, 1991.

+ Mapa do Site

Política de Privacidade
Cúria Provincial Agostiniana Rua Mato Grosso, 936, Santo Agostinho Belo Horizonte - MG, 30190-085 +55 (31) 2125-6879 comunicacao@agostinianos.org.br

Fique por dentro de tudo o que acontece na Província. Cadastre seu e-mail para receber nossa Newsletter.