Neste mês, trago para nossa reflexão um tema que ecoa em cada um de nós, especialmente naqueles que se lançam na aventura de descobrir o chamado de Deus: "Meu coração está inquieto". Essa frase, tão marcante, ressoa as palavras de nosso Pai Santo Agostinho e nos convida a mergulhar na nossa própria experiência vocacional. Para nos ajudar nessa jornada, olharemos para a vida de um grande homem que, como nós, experimentou essa inquietude e a transformou em um caminho de serviço: Leão XIV, o Papa Agostiniano, o querido Frei Robert Francis Prevost, OSA.
"Inquieto está o nosso coração enquanto não repousa em Ti, Senhor" (cf. Confissões I, I, 1). Essa é a frase que define a essência da espiritualidade agostiniana e que nos guia em nossa reflexão sobre a vocação. Santo Agostinho, em suas "Confissões", descreve essa inquietação não como um defeito ou uma falha, mas como um sinal distintivo da alma humana, criada para Deus e que só Nele encontra sua verdadeira paz. É essa inquietude que nos move, que nos impulsiona a não nos contentarmos com o trivial, a buscar um sentido mais profundo para a vida.
No contexto vocacional, a inquietude agostiniana é um tesouro. Ela é a “ponta do iceberg” de um desejo que Deus mesmo plantou em nós. Quando sentimos que algo nos falta, que há uma lacuna que o mundo não consegue preencher, é precisamente a inquietude agostiniana se manifestando. Ela nos convida a sair da zona de conforto, a questionar, a explorar, e a olhar para além do horizonte imediato em busca da plenitude que só o chamado de Deus pode oferecer.
A vida do Frei Robert Francis Prevost, que viria a ser o Papa Leão XIV, é um testemunho fascinante de como a inquietude pode ser o combustível para uma vocação extraordinária. Sua jornada, antes de ascender ao Pontificado, foi marcada por uma profunda busca, por questionamentos e, finalmente, por uma entrega radical. Ele experimentou as incertezas e as perguntas sem respostas prontas. Em meio a essa busca, e impulsionado por essa inquietude de alma tão agostiniana, encontrou o chamado de Deus para sua vida, que o levou a servir a Igreja no mais alto grau.
Leão XIV, com sua própria trajetória de vida, desde a periferia de Chicago, nos Estados Unidos, até as experiências pastorais e missionárias na Itália e no Peru, experimentou como a inquietude se transforma em um motor para a busca e o discernimento vocacional. Ao entrar na comunidade agostiniana descobriu tantos religiosos e religiosas agostinianos que nos ensinam valiosas lições sobre como a inquietude agostiniana pode guiar nossa própria dimensão vocacional. Listo aqui algumas dessas lições em que a vivência com a comunidade agostiniana favoreceu seu discernimento vocacional, e podem ser muito úteis para nós, em nosso processo:
Queridos irmãos e irmãs, o chamado de Deus se manifesta de diversas formas. Seja para a vida religiosa, o sacerdócio, o matrimônio ou uma vocação leiga engajada, a inquietude agostiniana é o primeiro sinal de que algo maior nos espera. Que a vida de Leão XIV, um Papa agostiniano de coração inquieto, nos inspire a abraçar nossa própria busca com coragem, fé e um profundo desejo de servir.
E então, meu irmão, minha irmã, como está o seu coração? Ainda inquieto? Que bom! Permita-se ser guiado por essa inquietude e descubra o caminho que Deus tem para você.
Que Deus o abençoe! Bora agostinianizar!
Frei Caio Pereira, OSA
Secretário de Animação Vocacional e Juvenil dos Agostinianos
Artigo publicado na coluna Pró-vocações, do Jornal Inquietude On-line, edição de maio de 2025.
Imagem: ilustração cedida pela Diretoria de Comunicação da Cúria Geral Agostiniana