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03
mar/24

Fazer o que se pode é fazer muito junto a Deus

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Estamos vivendo a graça da Páscoa. Desde esse evento da nossa fé, descortinamos em nosso horizonte o propósito de sermos as melhores pessoas possíveis. Assim, comprometemo-nos com a história da humanidade. Desejamos dar o melhor testemunho da presença ressuscitadora de Deus no mundo.

Contudo, nem sempre conseguimos realizar, de forma satisfatória, esse propósito pascoal de ressurreição. E desde Santo Agostinho já escutamos este lamento: “Quando lhe convém, o homem esquece que é Cristão” (Santo Agostinho in Comentário aos Salmos 21, 2, 5). De fato, os interesses humanos costumam atravessar a vontade divina manifestada nos pequenos detalhes da vida. E, por não colocarmos atenção nas minúcias do cotidiano, deixamo-nos levar pelos nossos impulsos, desejos e vontades desordenadas.

A ressurreição de Cristo Jesus deve ser para nós uma semente de esperança de que podemos ser diferentes do que somos até o presente momento. Para isso, faz-se necessário estarmos disponíveis para olharmos ao redor com sensibilidade e atenção. Somente assim perceberemos que todos os dias da vida são favoráveis para construirmos uma realidade melhor para nós mesmos e os que se encontram ao nosso redor.

“Observe a árvore. A fim de crescer para cima, primeiro cresce para baixo. Primeiro finca sua raiz na humildade da terra para depois lançar suas grimpas ao alto Céu.” (Santo Agostinho in Sermão 117, 17) A partir do que lemos acima, entendemos que Santo Agostinho indica ao seu público que nas coisas simples e cotidianas podemos almejar algo superior à nossa realidade humana. Basta cultivarmos a humildade necessária para sermos realistas diante das coisas que acontecem em nossa vida e propormos uma nova postura para que ela se transforme em algo diferente e, consequentemente, instigante e criativo para todos.

Independentemente de onde nos encontramos, é a partir do que somos e do que temos que poderemos nos projetar para coisas cada vez maiores. Não devemos ficar paralisados pelo medo. Sempre teremos êxito se estivermos associados a Deus. Como nos recorda Santo Agostinho, “não há motivo para tristeza duradoura onde há certeza de felicidade eterna.” (Carta 263,4) Deus é o nosso penhor de felicidade eterna. Acreditar em sua presença ressuscitada em nosso meio é a garantia que temos para investirmos em novas realidades e perspectivas para a nossa vida.

“Faze o que podes. Deus não te pede mais.” (Santo Agostinho in 128, 10, 2) Esse imperativo deixado por Agostinho de Hipona está carregado de uma esperança e de uma decisão a ser tomada por cada um dos crentes na ressurreição de Jesus. É primeiro uma esperança, à medida que acreditamos que Jesus Ressuscitado se apresenta no meio de nós, inspirando-nos com Seu espírito e nos ajudando a almejar as coisas do alto. E, em segundo, é uma decisão humana, haja vista que todos nós temos que encarar os desafios do nosso cotidiano como possibilidades de modificação de pensamento e mudança de atitudes frente a sociedade contemporânea.

A esperança e a decisão, implícitas na afirmação acima, não excluem a realidade humana. Ao contrário, valorizam o esforço humano que não deve se contentar em fazer pouco, mas, sim, exigir-se ao máximo da sua potencialidade, acreditando que tudo o que realizamos é uma forma de agradecimento a Deus pelas maravilhas que realiza em nossa vida. “A boa vontade não pode ficar inativa.” (Santo Agostinho in Comentário ao Salmo 36, 2,13) Não percamos a oportunidade de fazer o que podemos, para recebermos o que não merecemos das mãos de Deus.

Frei Arthur Vianna Fereira, OSA

Artigo publicado na coluna Fala Agostinho, do Jornal Inquietude On-line, edição de março de 2024.

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