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06
out/23

Onde está a sua tristeza?

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A realidade em que vivemos é algo que nos escapa. Constantemente, somos surpreendidos por eventos e fatos que mudam a nossa forma de ver o mundo e as pessoas. O nosso desejo mais íntimo é de plenitude e felicidade, mas de fato o que temos é imprevisibilidade e inconstância. Não somos donos nem dos objetos nem das pessoas. A realidade nos escapa das mãos. E, por isso, entristecemo-nos diante do que descobrimos que foi feito da nossa vida.

A partir do não controle sobre os acontecimentos da vida, o que nos resta é decidir o que faremos com aquilo que sofremos cotidianamente e para o que, muitas vezes, não teremos uma resposta assertiva.

Agostinho de Hipona entende que a tristeza é resultado de uma desordem interna do homem oriunda da sua associação ao pecado. Ou seja, aquilo que o ser humano não consegue articular como ação concreta do que foi proposto por Deus para que ele pudesse realizar em sua vida. “A causa de tua tristeza é o pecado e a causa de tua alegria é a justiça” (Santo Agostinho in Comentário aos Salmos 42, 3).

Confessar os seus erros, mover sua alma ao real arrependimento e se propor a restaurar o que foi perdido são passos concretos que a tristeza promove no interior da alma humana. A alegria do encontro com Deus que se dá na concretização de uma justiça que toca as relações entre os homens e o mundo criado por Deus.

De fato, trazer a tristeza como uma realidade que acontece em nossa vida é algo fundamental. Toda vez que fugimos da reflexão sobre as nossas tristezas, estamos negando o mais humano que há dentro de nós. Ou, como diz Santo Agostinho, estamos negando o movimento natural de nossa alma que deseja viver com intensidade o que Deus criou para cada um de nós. A tristeza é um afeto como qualquer outro que temos em nosso coração. Negar os afetos considerados “negativos” pela sociedade contemporânea (como o caso exemplar da tristeza) é negar a nossa própria natureza que se afeta com as coisas do mundo. A reincorporação desse afeto em nossos corpos  nos auxilia no processo de autoconhecimento que nos faz superar as nossas adversidades para associarmo-nos à plena vontade de Deus. Dar nome aos nossos afetos, e entendê-los em si mesmos, é o caminho mais seguro para a verdadeira conversão.

“Nossos afetos são movimentos da alma. A alegria, expansão da alma. A tristeza, contração da alma.
O medo, a fuga da alma. Quando te alegras, expandes tua alma. Quando te entristeces, contrais tua alma. Quando temes, foges de ti mesmo.” (Santo Agostinho in Comentário ao Evangelho de São João 46, 8)

Assim sendo, reconheçamos a tristeza como um elemento importante da nossa vida. Ela nos faz refletir sobre a nossa disposição de alma e a nossa atitude diante do mundo. É a nossa oportunidade de voltarmos o nosso olhar para a justiça e também para a possibilidade de sermos pessoas diferentes. A tristeza, se entendida de forma correta e associada ao desejo de transformação, pode ser o caminho para novas possibilidades da vida. Não significa sermos pessoas tristes, mas utilizá-la de maneira correta para pensar novos movimentos internos da nossa vida. Pois, como nos recorda esta bela metáfora descrita por Santo Agostinho no seu Sermão 254, 2: “A tristeza se parece muito com o esterco. O esterco, quando não está onde deve estar, deixa a casa imunda. Porém, quando posto no seu lugar certo, faz com que o campo seja fértil e produtivo”. Onde está, hoje, a sua tristeza?

Frei Arthur Vianna Ferreira, OSA

- Artigo publicado na coluna Fala Agostinho, do Jornal Inquietude On-line, edição de setembro de 2023.

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