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06
mar/23

Ajudar aos pobres é uma questão de justiça

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Estamos entrando no tempo quaresmal. Tempo de reflexão sobre a vida e a possibilidade de conversão. A esmola, o jejum e a oração são exercícios desse tempo da igreja que promove em cada um de nós um retorno a nós mesmos. E, consequentemente, a Deus e a nossas ações em relação aos nossos irmãos. Para Santo Agostinho, a conversão passava pela justa medida da distribuição dos bens dados por Deus à humanidade. Nascemos todos com a mesma natureza. Nela se encontra o princípio de todas as coisas. As nossas diferenças se dão nas relações humanas que estabelecemos com as coisas que se encontram externas a cada um de nós. “Olhem, homens e mulheres ricos, vocês não trouxeram nada a este mundo, e tão pouco levarão." (Sermão de Santo Agostinho 61, 8, 9)

Por isso, devemos estar alertas. A escassez de bens na vida dos irmãos demonstra uma má administração nas relações que estabelecemos no mundo. Se somos iguais pela nossa natureza humana, por que somos muitas vezes impedidos de usufruir dos bens que estão dispostos para todos? Agostinho de Hipona insistia sempre que “os bens supérfluos dos ricos são os bens necessários para os pobres. O rico possui coisas que pertencem a outros.” (Sermão de Santo Agostinho 206,1) Na verdade, o bispo de Hipona considera que negar ajuda aos pobres é uma violação da justiça. A virtude das relações humanas supõe o respeito dos direitos e deveres de todos. “O que uma pessoa usa injustamente não pertence a ela.” (Sermão de Santo Agostinho 50, 2, 4)

Para Agostinho, aquele que possui bens está obrigado, pela virtude da justiça, a distribuir o que usufrui como supérfluo aos mais pobres de nosso convívio. Em sua lógica de mundo, se tudo que temos foi concedido por obra e graça divina, e dela somos apenas administradores em suas expressões materiais e espirituais, tudo o que nos pertence, em última instância, pertence a Deus. Assim, se temos algo sobrando em nossa vida, a redistribuição dos bens é expressão de uma dívida que somos responsáveis por pagar dentro da sociedade. Se você estivesse dando algo que fosse teu, seria generosidade. Porém, você está dando o que é de Deus. Dessa forma, você está pagando uma dívida.” (Comentário de Santo Agostinho aos Salmos 95, 15)

Esse é convite do tempo da quaresma: revisitar as nossas formas de relacionamento com os bens materiais e com as relações estabelecidas com os mais empobrecidos. A partilha é sinal da multiplicação da graça de Deus para todos nós. Ajudar aos pobres é uma questão de justiça diante de uma sociedade dividida pela cobiça e pela falta de empatia entre os seres humanos. Façamos desse propósito o princípio de nosso período quaresmal de reflexão e de desejo de mudança de vida.

Frei Arthur Vianna Ferreira, OSA
freiarthur@ymail.com

- Artigo publicado na coluna Fala Agostinho, do Jornal Inquietude On-line, edição de fevereiro de 2023.

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