Constantemente, estamos em busca de algo. Essa verdade nos move pela vida e nos faz cada vez mais inquietos. Na verdade, o desejo da caminhada nos define como pessoas e nos faz cada vez mais próximos do encontro com o mais profundo de nós mesmos e com Deus. Como nos recorda Santo Agostinho: “Não andes averiguando quanto tens, mas o que tu és” (Sermão 23, 3).
A oração continua sendo o melhor investimento no processo de conhecimento de si, da realidade e de Deus para todos aqueles que buscam a Verdade eterna. E, a princípio, a nossa oração pode ser caracterizada em dois esforços: o perdão e o serviço ao próximo. “A oração tem duas asas, com as quais se chega a Deus, se, a quem erra, perdoa-se o erro cometido e se se doa a quem se encontra necessitado” (Sermão de Santo Agostinho 205, 3). Assim, colocamo-nos no exercício do perdão cotidiano que nos leva a entender a essência de todas as coisas e nos auxilia na construção de escolhas mais saudáveis em nossas vidas.
Essa mesma realidade acontece com o desejo de servir que brota dentro de cada um de nós. O serviço surge do desejo constante de buscarmos a ordem de todas as coisas em Deus. Com o coração dirigido a Deus e a sua verdade, expressa no cumprimento de sua palavra de vida, encontramos o oásis necessário para continuar a nossa caminhada. Uma vez que “a paz de todas as coisas é a tranquilidade da ordem” (Santo Agostinho in A Cidade de Deus, 19, 13), o serviço realizado em busca do cumprimento da vontade de Deus nos leva a uma paz interior fundamental para a vivência cristã.
Contudo, devemos entender uma coisa: a oração que leva ao perdão e ao serviço deve ser constantemente entendida como responsabilidade do próprio homem e das suas escolhas. Atribuir aos demais a culpa pela não realização de sua vida interior, e do seu encontro com Deus por causa das situações externas, faz com que o homem se engane a si mesmo. De fato, devemos esmerilar nossa própria vida, com acertos e divergências, para ver o que ainda precisamos melhorar em nossa caminhada pelo mundo. Como nos recorda o Santo de Hipona: “Não em todas as coisas deve-se acusar o diabo: às vezes, de fato, o próprio homem é um mal para consigo mesmo” (Sermão de Santo Agostinho 163B, 5). O exame de consciência e o coração sedento pelo amor de Deus podem nos ajudar nesse constante exercício.
De fato, a humanidade é feita de uma inquietude constante. A busca é um traço dessas inquietudes. E a oração, o perdão, o serviço e a consciência de si, em seus acertos e erros, são componentes fundamentais que nos fazem ser o que somos. Deixemos soar em cada um de nós o comentário de Santo Agostinho ao Salmo 85, 6: “Os degraus são os afetos, o caminho é a tua vontade. Amando sobes, negligenciando desces. Se amas a Deus, está no céu, mesmo habitando na terra”. Boa busca para cada um de nós.
Frei Arthur Vianna Ferreira, OSA
- Artigo publicado na coluna Fala Agostinho, do Jornal Inquietude On-line, edição de outubro de 2022.