Somos seres da mudança. E um dos nossos desafios é sermos pessoas que buscam, constantemente, uma mudança positiva para nós e para todos ao nosso redor. Todo o tempo nos ressignificamos como pessoas em nossos trabalhos, em nossas relações sociais, culturais e ambientais. Assim como nas nossas relações de dimensão espiritual, movendo-nos para uma mudança que, de certa forma, nos leve a habitar no próprio Deus.
Ao olharmos a vida de Santo Agostinho, enxergamos esse mesmo esforço. A busca pela mudança, em Santo Agostinho, é a possibilidade de uma busca pela felicidade individual. Esta que ele encontrará em uma nova relação com a divindade. Através da sua inquietude e, consequentemente, do seu debruçar sobre a sua realidade, Agostinho busca incessantemente a oportunidade de amar. Esse amor o mobiliza para o encontro de Deus. Nas suas confissões, X, 8, Agostinho reconhece as consequências da ação de Deus sobre a sua vida em constante movimento: “Tocaste-me o coração com a Tua Palavra, e comecei a amar-Te”. A abertura de coração de Agostinho para a escuta da voz do Senhor através da palavra do Livro de Romanos, capítulo 13, versículos 13 e 14, descortina uma nova possibilidade de vida. As coisas efêmeras da vida o angustiavam. O prazer por si só não o completava. Faltava-lhe um ideal maior. E, por conseguinte, ele o encontrou em Deus e no seu desdobramento das relações humanas.
A conversão de ideias, de afetos e de atitudes começava dentro dele, apoiada por uma motivação intrínseca que apostava em uma vida nova em Deus. Como ele afirmou: “Não posso provar a sinceridade da minha confissão, mas acreditarão em mim aqueles cujos ouvidos se me abram pela caridade” (Santo Agostinho in Confissões X, 3). A conversão é dada desde um impulso interno do ser humano. Os seus contemporâneos só puderam contemplar através de seus gestos concretos sobre a realidade e das relações que ele estabeleceu ao longo de sua caminhada pelo mundo. A esse movimento chamamos de testemunho.
Entre a escolha de mudanças concretas de vida e a persistência em continuar a caminhada no mundo, construímos uma alegria própria dos que creem em Deus: a de nos sentirmos amados por Deus. “Há uma alegria que não é concedida aos ímpios, mas àqueles que te servem por puro amor: essa alegria és tu mesmo.” (Santo Agostinho in Confissões X, 32) Deus se coloca como o centro da nossa felicidade. O desejo de amá-lo e a vontade constante de segui-lo são as certezas que Agostinho, o convertido, colocou como meta em sua vida. E, por isso, ele se transformou em referência histórica, tanto para a História medieval quanto para a Igreja Cristã católica.
Ao fazermos memória desse santo homem da Igreja, celebramos esta certeza: a conversão buscada com decisão e persistência nos traz a alegria de sermos pessoas mais assertivas no mundo e, consequentemente, inquilinas do amor filial de Deus. Tomara que alcancemos viver essa realidade ao longo de nossa vida.
- Artigo publicado na coluna Fala Agostinho, do Jornal Inquietude On-line, edição de agosto de 2022.