Três são os pilares da espiritualidade agostiniana: a interioridade, a vida comum e o serviço ao Reino de Deus. Pilares inspirados na própria vida de Santo Agostinho, na sua personalidade, em seu estilo de seguimento de Jesus Cristo, no modelo de vida das primeiras comunidades cristãs, abertura às necessidades da Igreja. Sua espiritualidade foi encontrando maneiras próprias de se expressar de acordo com os tempos, os lugares e as culturas. A grande família agostiniana é formada por muitas ordens, congregações e movimentos. Dentre eles, destaca-se a Ordem de Santo Agostinho (OSA).
Tradicionalmente a OSA tem procurado servir em muitas frentes apostólicas, todas orientadas pelo horizonte maior: o Reino de Deus. Fazem parte desse serviço os muitos trabalhos encomendados pela Igreja, as grandes causas humanitárias, o diálogo com o mundo plural.
Uma das atividades apostólicas é o ministério ordenado a serviço da santificação, do ensino e do governo do Povo de Deus, por meio das paróquias. A OSA está presente nos cinco continentes, em cerca de 50 países. Todas as circunscrições da Ordem (províncias, vicariatos, delegações) desenvolvem o trabalho missionário nas paróquias.
É possível falar de uma “paróquia agostiniana”? Há um jeito agostiniano de servir nas paróquias?
Todo trabalho apostólico assumido pela Ordem é assumido na Igreja, para a Igreja e com a Igreja. Desse modo, podemos falar que a principal característica de uma paróquia agostiniana é sua comunhão com a Igreja Local (arquidiocese, diocese ou prelazia). Por isso, a Ordem assume o trabalho paroquial como uma forma de edificar a comunidade de fé, na disponibilidade em colaborar com a Mãe Igreja, para que ela continue a gerar e a nutrir novos filhos e filhas, como dizia Santo Agostinho (Carta a Eudóxio).
Ainda que o pároco (apresentado pelo superior maior e nomeado pelo bispo local) seja o responsável imediato do pastoreio de uma paróquia confiada à Ordem, ele exerce essa função em nome de sua comunidade religiosa. É como comunidade que a paróquia deve ser dirigida. Nossas Constituições afirmam que nosso primeiro apostolado é o “testemunho da vida comum” (Const. 151).
Toda paróquia tem como centro a Eucaristia. A Eucaristia e a pregação da Palavra de Deus são os dois principais ministérios de uma paróquia. Seguem a santificação dos fiéis com os sacramentos, a liturgia bem celebrada, a catequese de iniciação cristã e a formação continuada dos evangelizadores, a prática da caridade e o cuidado dos pobres, enfermos e abandonados. A paróquia deve, pois, espelhar tudo aquilo que a Igreja deve ser, entre outras coisas, uma casa com as portas sempre abertas para todos. As Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil expressam essa tarefa como casa da Eucaristia, casa da Palavra, casa da Caridade e casa da Missão.
Levando em conta tais aspectos, somos chamados a compartilhar a riqueza da espiritualidade agostiniana com os paroquianos. Os freis, responsáveis pelas paróquias, devem servi-las com um “claro estilo agostiniano”.
Esse estilo agostiniano caracteriza-se pela acolhida, proximidade, espontaneidade e amizade, valores cristãos, com um típico matiz agostiniano que brota da centralidade da vida comum de nosso carisma. Importa cada pessoa, única e original, com sua história, seus limites e potencialidades, seus dons e talentos.
O Documento 100 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) tem como título “Comunidade de comunidades: uma nova paróquia. A conversão pastoral da paróquia” (2014). A paróquia agostiniana, mais do que qualquer outra, deve desenvolver em todos os grupos, pastorais, movimentos a consciência de “ser comunidade”. Formar para a vida em comum, podemos dizer, é uma característica tipicamente agostiniana.
Outro aspecto que prezamos muito é a inserção nas realidades onde estamos presentes: história, condição social, necessidades, iniciativas, projetos. O anúncio da Palavra de Deus deve encontrar uma maneira que toque o coração das pessoas, fale a partir de suas vidas, ilumine e oriente o dia a dia. Dizendo de outra maneira, uma paróquia agostiniana deve estar atenta aos “sinais dos tempos”, ou seja, àquilo que faz parte do lugar, da cultura e da época em que vivem as pessoas: a fé deve ter uma profunda ligação com a vida. Por isso, via de regra, normalmente junto a uma comunidade religiosa agostiniana e, de modo particular, nas paróquias, desenvolvem-se sempre atividades de cunho social, algumas das quais institucionalizadas como obras sociais.
Todo cristão é chamado à santidade. Numa paróquia agostiniana, devemos também divulgar as devoções e modelos de santidade da Ordem Agostiniana. Sobressai, entre todos os santos e santas, aquela que é a mais Santa de todos: a Virgem Maria. A Ordem de Santo Agostinho conserva quatro títulos marianos: Nossa Senhora da Graça, Nossa Senhora da Consolação e Correia, Mãe do Bom Conselho e Nossa Senhora do Socorro.
Nossa Província, além de ter como patrona Nossa Senhora da Consolação e Correia, tem duas paróquias dedicadas a ela: uma no Rio de Janeiro e outra em Belo Horizonte.
Frei Luiz Antônio Pinheiro, OSA
Prior Provincial
Artigo publicado na coluna Reflexão, do Jornal Inquietude On-line, edição de outubro/novembro de 2024.
Foto de capa: imagem de Santo Agostinho da Basílica de San Pietro in Ciel d'Oro, em Pavia, Itália.