O fim é algo inevitável da vida. Com certeza, ninguém tem dúvidas disso. Embora não acredite – ou não queira – que isso aconteça. Nós sabemos que tudo na vida muda, mas gostamos de contar para nós mesmos que isso não nos levará para perto de um fim. Sabemos que vamos morrer, mas não acreditamos que isso aconteça. É por isso que, quando recebemos a notícia da morte de alguém, ficamos surpresos. “Era tão cheio de vida...” ou “Ontem mesmo estava vivo!?” ou “Mas ele nem estava doente!”. Essas são frases que dizemos para nós mesmos com o intuito fantasioso de afastar a ideia de que “o próximo pode ser eu... E isso não é justo!”.
Essa é uma das motivações para Santo Agostinho insistir na ideia de conversão.
Pelo fato de sermos seres temporais, devemos constantemente ponderar se as mudanças que acontecem na vida, também, se refletem na alma do crente. A vida pede mudanças. E a fé em Cristo também. Assim, não tem como sermos cristãos sem entender que a conversão é algo essencial para que possamos sobreviver às realidades temporais a que somos submetidos.
“Ninguém prometeu a você o dia de amanhã. Corrija-se! Escute a Escritura. Não demore em se converter ao Senhor, não adie de dia em dia. Essas palavras não são minhas e elas são para mim. Elas são para mim se eu as amo; ame-as e elas serão igualmente para você. Elas vêm das Santas Escrituras. Despreze-as e elas serão para você um inimigo. O inimigo com o qual, diz o Senhor, é preciso se apressar para entrar em acordo.” (Sermão 40, 5 de Santo Agostinho)
O chamado para escutar a Deus desde a sua palavra, com o intuito de colocá-la em prática, é um alerta para que não procrastinemos na conversão de nossas ações e dos nossos pensamentos. A certeza de um fim da nossa existência exige de nós uma agilidade para sabermos discernir entre as coisas que devemos fazer e as que desejamos. Isso porque, não necessariamente, os nossos desejos garantirão a paz e a tranquilidade daqueles que buscam a Deus como sentido para sua vida. Aferrar-se à palavra de Deus não é apenas o princípio da conversão humana, mas também a garantia de uma felicidade que transcende a este mundo volátil.
“As coisas humanas passam como um rio. Para não ser arrastado, agarre-se à madeira. O rio passa, como toda criatura é como a erva e toda a sua glória como a flor dos campos! Tudo passa, tudo flui. Como a erva seca e a flor fenece. Ao que me agarro? A palavra de nosso Deus permanece eternamente.” (Sermão 25, 6 de Santo Agostinho)
Para quem é Cristão católico, a premissa “a gente só vive uma vez” é falaciosa. Na verdade, vivemos todos os dias. A morte biológica é a única que não se repete. Por isso, a conversão urge dentro de cada um de nós. Na verdade, ela é apenas o reflexo da mudança que está posta como destino a cada um de nós. E é desde esta realidade que temos que buscar a nossa felicidade. “Se queres uma vida longa, ame mais uma vida boa” (Sermão 16, 2 de Santo Agostinho). E a vida boa passa por dois caminhos: o primeiro, pela conversão a Deus, e o segundo, pela certeza de que as mudanças realizadas aqui são prelúdios para uma vida feliz fora daqui. Ou seja, é junto a Deus e à comunhão dos santos que ele reserva a cada um buscar a conversão ao longo da sua vida.
Frei Arthur Vianna Fereira, OSA
Artigo publicado na coluna Fala Agostinho, do Jornal Inquietude On-line, edição de julho de 2024.