Nesses últimos dias do mês de junho de 2023, a Província Nossa Senhora da Consolação do Brasil recebeu a visita do assistente da Cúria Geral da Ordem de Santo Agostinho, Frei Alexander Lam, em nossas comunidades religiosas. A presença desse nosso irmão, vindo em nome do nosso Prior Geral, simboliza o sentido universal de ser agostiniano no mundo. Na verdade, ser agostiniano é a escolha de um estilo de vida próprio que é assumido, primeiro, através da vida consagrada religiosa, e que se estende a todas as pessoas inquietas por Deus no mundo. Quando penso na vida agostiniana como uma escolha de um estilo de vida próprio dentro da Igreja, recordo-me das palavras de Dom Luiz Marín, em uma palestra dada aos agostinianos reunidos no México, em abril de 2023: “Eu não sou um Bispo Agostiniano, eu sou um Agostiniano que é Bispo”. Essa forma de pensar em nós mesmos como agostinianos muda radicalmente o nosso ponto de vista sobre o mundo.
De fato, é o que o próprio Santo Agostinho nos diz em seu sermão 355,1 quando, falando aos seus irmãos de fraternidade, recordava os motivos pelos quais ele aceitou ser Bispo impondo-se uma condição imperiosa: viver uma comunidade de irmãos.
“Eu vim a esta cidade para ver um amigo que pensei que poderia ganhar para Deus morando conosco no mosteiro. Eu vim como se estivesse seguro, porque a cidade tinha um bispo. A contragosto, fui feito sacerdote, e por esta etapa cheguei ao episcopado. Eu não trouxe nada; vim para esta Igreja com as únicas roupas que usava. E como eu tinha planejado viver num mosteiro com irmãos, ao saber do meu projeto e do meu desejo, o velho Valério, de feliz memória, cedeu-me o pomar onde hoje se encontra o mosteiro. Comecei a reunir irmãos com o mesmo bom propósito, pobres como eu, que não tinham nada como eu, para me imitar. Assim como vendi meu limitado patrimônio e dei seu valor aos pobres, assim deveriam fazer aqueles que quisessem estar comigo, todos vivendo do comum.”
De fato, o que relata Agostinho em seu sermão sobre a sua missão na Igreja, e a sua escolha de ‘ser-no-mundo’, está refletido na finalidade à qual a nossa própria Ordem Agostiniana nos chama a viver: “unidos concordemente em fraternidade e amizade espiritual, buscando e horando a Deus, e trabalhando para o serviço do Seu povo. Desse modo, participamos da obra de evangelização da Igreja, levando a Boa-Nova a todos os grupos humanos, para que, transformados interiormente, se renove a própria humanidade” (Constituições da OSA, 13). Esse é o carisma que nós, que escolhemos ser agostinianos, devemos viver, não importa a atividade social e espiritual que exerçamos no mundo.
Talvez, o grande esforço que fazemos atualmente seja inspirar mais pessoas a viverem esse mesmo ideal, dentro da sua vocação própria. Não é necessário ser frei, padre ou freira para viver esse carisma. Todos os leigos batizados podem partilhar esse mesmo sentido da vida. A fraternidade que transforma a humanidade é uma das chaves de compreensão de um agostiniano. É a partir dessa premissa que constituímos as nossas relações humanas em suas diversas manifestações no mundo. Em verdade, assim cumprimos o que está posto como primeiro em nossa Regra de Vida de Santo Agostinho I: “Vivam todos, pois, em união de alma e coração, e honrem a Deus uns nos outros, do qual vocês foram feitos templos vivos”.
A presença da Cúria Geral Agostiniana nos recorda o motivo pelo qual cada um dos religiosos agostinianos escolheu este estilo de vida, para a Igreja e para o Mundo. Voltar às fontes pelas quais nos abastecemos, com o testemunho deixado por Agostinho e sua forma de viver o evangelho, nos ensina a trilhar os nossos próprios caminhos. Ao mesmo tempo, nos faz viver a universalidade do carisma agostiniano.
Frei Arthur Vianna Ferreira, OSA
- Artigo publicado na coluna Fala Agostinho, do Jornal Inquietude On-line, edição de junho de 2023.
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