O estilo sinodal de ser Igreja é uma das marcas do pontificado do Papa Francisco. Na palavra “sínodo” já está contido como a Igreja deve ser: “caminhar juntos”, Povo de Deus sempre a caminho. O Papa usa frequentemente alguns verbos que podemos chamar “verbos sinodais”: encontrar, escutar, refletir, rezar, discernir, decidir, agir.
Nossa Província da Consolação desenvolveu um “jeito sinodal” de se organizar: duas vezes por ano, normalmente no início de junho e dezembro, os freis se reúnem para conviver, partilhar experiências, rezar, confraternizar, planejar, tomar decisões, avaliar os seus projetos.
Esse “jeito sinodal” iniciou-se na década de 1970. Frei Félix Valenzuela, que estava trabalhando no Panamá, foi nomeado vicário provincial da então Vicaria Matritense. Uma forma que encontrou para reunir os Religiosos e criar uma mentalidade comum foi a realização dessa modalidade de assembleias bianuais. Naquela época, a Vicaria Matritense, a base da atual Província da Consolação, tinha apenas três fundações: as duas comunidades e paróquias no Rio de Janeiro, em Marechal Hermes e no Engenho Novo; e a comunidade de Belo Horizonte, com o Colégio Santo Agostinho e a paróquia.
Desde então, nesses mais de cinquenta anos, as assembleias se realizaram ininterruptamente, inclusive durante o tempo da pandemia, acontecendo de modo virtual. Grandes decisões têm sido tomadas nessas assembleias, de uma maneira participativa, envolvendo os Religiosos nas reflexões, discernimentos e deliberações. Entre os grandes temas tratados, estão a abertura de colégios, obras sociais, paróquias, novas frentes missionárias. E também decisões difíceis, como o fechamento de alguma obra.
De 29 de maio a 2 de junho deste ano, aconteceu, em Belo Horizonte, uma importante assembleia, denominada assembleia pré-capitular. Nessa assembleia foi feita uma avaliação do quatriênio 2019-2023 e se começou a fazer o planejamento para o próximo capítulo provincial, que acontecerá em dezembro deste ano. Nela foi realizada a eleição do novo governo provincial (prior e conselheiros provinciais) que, a seu tempo, será oficialmente divulgado. O novo quatriênio 2023-2027 começará com o capítulo provincial de dezembro.
Capítulo... esse é o nome que se dá às reuniões das ordens e congregações religiosas: são as reuniões solenes mais importantes. Assim, temos o capítulo geral, que é a maior instância de governo da Ordem Agostiniana, que acontece de seis em seis anos. No nível das províncias e vicariatos, temos os capítulos provinciais e vicariais, de quatro em quatro anos. E, em cada comunidade ou fraternidade, deve se realizar mensalmente o capítulo local. À frente da Ordem, das Províncias, dos Vicariatos, das Comunidades estão, respectivamente, o Prior Geral, os Priores Provinciais e/ou Vicariais e os Priores Locais. São os Irmãos que, como “primeiros entre os pares” (prior), têm a importante missão de servir como coordenadores em cada instância.
Esse tipo de organização é muito antigo na Igreja. A experiência começou com os monges cistercienses no século XI e depois foi generalizada para as demais ordens e congregações religiosas da Igreja Católica. Mas essa maneira colegiada, sinodal, de se organizar remonta aos grandes fundadores das famílias monásticas, como São Pacômio, São Basílio, São Patrício, São Bento e... não podia faltar, Santo Agostinho. Esses fundadores, por sua vez, inspiraram-se nos Atos dos Apóstolos, que testemunham o “jeito sinodal” de a Igreja primitiva existir.
Aliás, foi desta maneira, buscando um discernimento comum, tendo em vista a comunhão e a missão, que a primeira comunidade cristã de Jerusalém resolveu alguns problemas que punham em risco o “projeto de evangelização” dos primeiros tempos: uma assembleia que aconteceu em Jerusalém (cf. Atos 15) e que é considerada o “primeiro concílio” da Igreja.
- Artigo publicado na coluna Reflexão, do Jornal Inquietude On-line, de maio de 2023.
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